fotografia de jorge pimenta
é lenta a revoada de páginas,
dois gomos de tangerina
e um leve fio a escorrer
pelos dedos,
aço, dizes tu;
nuvens, sei-o eu;
mas entre um e outro
toda a espessura das coisas
já gasta em saliva
com que percorres mundos de papel
que nos cabem,
sem míngua ou excesso,
em cada milímetro do corpo
são páginas
na gravidez do sal,
na gravidez do sal,
são palavras e espantos
de frio,
de frio,
manhãs cor de anis,
numa desordem que toca
todas as coisas
por cima do tempo
por debaixo do vento,
nesse lugar secreto onde
tudo se ganha
a pouco e pouco,
chegado o derradeiro capítulo da viagem,
boca desatada sobre a exclamação máxima
do mundo:
do mundo:
são deuses de corpo nu
entoando a marcha interminável dos corpos
nessa felicidade de tinta
com que escrevemos os dias lentos
que julgávamos presos à engrenagem secreta
do fim da morte
do fim da morte
mas agora é o instante,
a derradeira frase, e
já de olhos abertos e mãos sobre a paisagem,
o manto branco é tudo o que dissipas
e nada mais alcanças
senão a chuva frenética das sombras
aninhada sobre espelhos
num ocaso de flores vazias
infinitamente encharcadas,
sarcasticamente queimadas
e a história repete-se...
o caos e a desordem dos corpos na limpidez do poema
ResponderEliminara foto faz jus ao poema
belíssimo
:)
restam-nos as palavras com que enganar retinas neste planeta de quartzo onde caos e ordem são apenas circunstâncias menores.
ResponderEliminarbeijinho, piedade!
Um dia um certo dia, talvez já não se possa,
ResponderEliminarnesta vida, recomeçar.
Não deixemos que o tempo passe e,
com ele, a ocasião de recomeçar
um dia que podemos encher de felicidade.
Recomeçar de um ponto de um lugar.
Recomeçar com um gesto, com uma palavra,
com um abraço
O sucesso nessa vida depende de nós ,
mais acima de tudo de Deus.
A você um abençoado final de semana.
Beijos e meu eterno carinho.
Evanir..
um beijinho, evanir!
EliminarSim, Jorge
ResponderEliminarEntre todos nós , poetas, a espessura das coisas e sua circularidade.
Lindo, comovente, surpreendente.
Agradecida pela sua reciprocidade.
Beijo.
e nós, nómadas nesse caminho espesso a perder de vista a memória...
Eliminarbeijo, andrea!
Águas, águas...sinto-as escorrer entre os teus versos. Mas são águas que queimam. Águas ardentes. Qual o teu signo, Jorginho? O poema é um escândalo, a engrenagem secreta do fim da morte é uma imagem enigmática e instigante.
ResponderEliminarBeijos, querido!
taninha,
Eliminartenho como ilustração para esta imagem da engrenagem secreta do fim da morte um dos locais mais apaziguadores e instigadores com que pude fisicamente contactar; uma galeria ao que já não, espaço encimado por uma claraboia a toda a extensão da estrutura, num beijo silencioso de luz. porque as águas de que falas no poema são as da saliva com que deslocamos as páginas de um livro (o livro do amor) optei por uma outra, a que aqui exibo. noutro instante trarei a tal de que te falo mas que, em todo o caso, tenho já publicada num site de fotografia: http://olhares.sapo.pt/a-engrenagem-secreta-do-fim-do-tempo-foto5970488.html#
um beijinho grande!
p.s. em resposta à questão que encerra o teu comentário: virgem/balança, ali mesmo entre um e outro, longe da água, mas suficientemente líquido para a sentir.
A chuva
ResponderEliminara eternidade
em pingos
de letras
pelas mãos
e boca
e pelos
olhos
escorre
só depois
desta morte
perceberás
era
teu sangue
que te fugia
(Joelma B.)
e tu sempre me ofertando passeios, meu amigo das imagens pulsantes!
Beijos!
p.s: tua fotografia vai junto com o poeminha pro Transfigurações, tá!?
e a vida a dissipar-se na vertigem da palavra, um quase-poema, hino ao inefável e a esse sangue corrompido na viagem do tempo, algures entre a fénix e o verme, o touro e a borboleta. por vezes, escorre-se-me pelas mãos uma pequena morte de irrecusável veneno...
Eliminarbeijinho, jô!
Tudo cabe nessas páginas que olhos/corpos ávidos devoram. Ganha-se mais do que se perde nessa chamada desordem, apenas circunstancial. Tudo lindo, a foto, a música e, sobretudo, seus versos. Bjs.
ResponderEliminarhá páginas de escrita interminável, como infinitos são os dedos que lhe conferem a eternidade.
Eliminarbeijinho, marilene; sempre tão especial a tua presença e a gentileza das tuas palavras!
"boca desatada sobre a exclamação máxima
ResponderEliminardo mundo:"
Um poema magnífico, que nos prende no virar de cada "página".
Chegamos ao fim sentindo o recomeço...
Gostei de o ler embalada pela música, depois de ter gravado na retina a excelente imagem que o acompanha.
Já o disse muitas vezes: é um prazer entrar aqui.
Beijinhos :)
somos essa massa quantas vezes indefinida em movimento circular, adivinhando portas por abrir em cada uma das que se fecham atrás do movimento desconcertado do corpo...
Eliminarum beijo meu, sónia! tão bom ter-te aqui!
O caos e harmonia juntam-se e nesse mar de opostos ora calmo , ora revolto a palavra se insinua e, tudo o que julgava findo, renasce a cada instante...
ResponderEliminarTudo perfeito, sentido...sensibilidade do SER!
Beijos mil!!!