sexta-feira, 7 de junho de 2013

galeria VII


I. biblioteca

de súbito o frémito:
é a geometria da pedra
as toneladas de fogo até aos olhos
e a majestade do sangue
a percorrer metros de linhas
e tantos quilómetros de
viagens escritas,
ainda mais por escrever,
na contingência arbitrária
da palavra
da respiração aflita
e da grandeza inevitável:

tímida e certa,
restrita e absoluta
como tudo o que parte do corpo
em direção às coisas
que não têm preço.


fotografia de eurico portugal




II. pontuação

fosses tu poros e respiração
e eu apenas o instante,
sôfrego e urgente,

a pontuar-te todo o corpo.


fotografia de eurico portugal



22 comentários:

  1. a geometria da pedra: figuras e corpos: e esta indagação a tremular


    abraço

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    1. figuras e corpos: voos perpendiculares: e esta equação a crepitar por entre melodias roucas.

      abraço!

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  2. Que imagem esplendorosa:".. as toneladas de fogo até aos olhos/e a majestade do sangue
    a percorrer metros de linhas/e tantos quilómetros de/viagens escritas..." Essa sensação que me trazem, sempre, seus versos...de estar olhando o mundo pela primeira vez! Eu me estreio e estreio mundos: quando te leio, Eurico. Obrigada por isso...

    Beijos,

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    1. fôssemos nós todos os nossos mundos, verdade, taninha?
      um brinde a todos os olhares que despertam pela primeira vez!

      beijinho!

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  3. Poeta precioso, a tua voz continua explendorosa.

    Beijos cristais.

    Observaçãozinha: desculpe minha ausência, não tenho conseguido acessar seu blogue nem por reza braba, tive que usar outro caminho dos deuses.

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    1. cris,
      que saudades da voz do tempo fecundo a erguer cidades cavalgando o eco da tua.

      abraço!

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  4. Eurico querido,
    antes sobre a biblioteca.

    Espelhos, reflexos, arquitetura, concreto, concretude "em direção as coisas que não têm preço". E na minha vida, a arquitetura sempre esteve ligada aos sentimentos. Ter um pai arquiteto deu nisso.

    E aquela jovem árvore que ganhou definitivamente um destaque nesta tua fotografia,Eurico, recordou-me de certa vez, anos 70, quando meu pai refez todo o projeto de uma casa, a fim de salvar um imenso e antigo Jacarandá que se situava bem ao centro do que futuramente seria a sala de estar: recortes de mansarda, jardim de inverno contornado por imensos panos de vidro... Enfim, o projeto foi um sucesso. E quero pensar que o Jacarandá ainda vive.

    Grande beijo!

    PS.: Sobre a fotografia comento onde? Aqui mesmo no Orvalho?!

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    1. aninha,
      ainda que começando no rasgo, no papel e no esquadro, ainda que ganhando forma no betão, na pedra e na argamassa, as grandes obras definem o verdadeiro firmamento no traço do coração, o ponto de equilíbrio que fixa todas as energias do universo. por isso mesmo, as grandes obras erguem-se acima do nome do criador, eternizando-se junto com as mãos que projetam, que escavam e insistem. o jacarandá tocou a luz de um coração que jamais desaparecerá.

      beijinho!

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  5. Eurico,
    sobre a pontuação.

    Fotografia de um Apocalipse que anuncia em toda sua dramaticidade e inevitabilidade um surpreendente Gênesis. Um "al revés" do que seria o esperado.

    Lembrando o soneto da fidelidade, de Vinícius de Moraes:
    "Eu possa me dizer do amor (que tive):
    Que não seja imortal, posto que é chama
    Mas que seja infinito enquanto dure."

    Pois então que os poros e toda a respiração tenham sete vidas!
    E que tudo seja reticências ad infinitum...
    Cada vez que três pontinhos perdessem dois, logo mais dois apareceriam :) Incrível!
    Numa projeção geométrica para lá de interessante.
    Isso não seria o paraíso? :)

    Grande beijo!

    PS.: Envio-te depois notícias do tempo.

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    1. um ponto vazio, um ponto exemplarmente vazio, desprovido de forma e geometria, leve como o ar, na simplicidade de todas as bocas que acendem o ar quente com que gravitam sonhos, corpo e linguagem. um ponto vazio, supremo na completude de nada, pois tudo ali cabe mas nada está, esse nada que é tudo, silêncio e palavra, grito e gemido, sorriso e línguas enlaçadas. porque é no milagre da pontuação que a sintaxe do corpo solta as páginas ao vento e ao tempo.

      beijinho!

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  6. E o instante, ainda que "sôfrego e urgente", se perpetuaria.

    Beijinho, Eurico.

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    1. as eternidades que entronizam o momento e todas as suas urgências.

      beijo, alcina!

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  7. Sobre a Biblioteca...

    Muito se escreve com a pena onde mergulha a tinta do coração...
    Muito há por escrever, mesmo com ânsia, com vontade, com urgência de conhecer...Mas, não tem preço, e ...a escrita é dolorosa...
    Parabéns, amigo-poeta-fotógrafo.

    Beijinho meu.

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    1. a escrita, esse fragmento de tinta atirado à planície branca, súbito, suspenso, às vezes violento sobre cada ferida cinzenta de pulsos frágeis; como se define, afinal, o coração?

      beijinho!

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  8. A impressão que levo de toda leitura, é ir do peso ao suspiro... ou do suspiro ao peso! O entremeio fica reservado aos esquecimentos!

    beijos, meu amigo poeta!!

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    1. esquecimento: a antecâmara de tudo quanto não sabemos deixar de recordar. e eu suspiro, jô...

      beijinho!

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  9. verdadeiramente intensa a tua pontuação, belíssimo!
    como disse no lua, palavras- incêndio, as tuas palavras.

    beijinho, querido amigo!

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    1. as palavras: purga ou castigo na cave de cada um dos nossos autos de fé?

      beijinho, querida amiga!

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  10. Genial!

    Uma pontuação urgente, mágica, de tirar o fôlego.
    Ponto final.

    beijinho

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    1. e tudo nada é senão rasto de tinta...

      beijinho, sandra!

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