quinta-feira, 25 de abril de 2013

25 de abril: a cor amarga da revolução


fotografia de eurico portugal


25 de abril de 1974:
depois do grito sem sangue
o ar encheu-se de promessas, cravos e
quase certezas.

assim abril:
depois do sonho,
o tempo a colecionar troféus
que apenas brilham na sombra
dos homens.
e abril adormeceu-os:
agora sem boca
dentes podres
e mau hálito
habitando silêncios num espelho,
creme anti-rugas e um par de mãos
cansadas de massajar cravos e dores.

abril tardio:
o dedo magro imita o vento,
primeiro sobre a testa e os sulcos vencidos
depois, nas pétalas do rosto, que foram já poema,
por fim nos lábios, agora secos
e abandonados, como as revoluções que se cansam
de esperar.

abril... sempre:
há uma morte invisível que nos agarra
ao silêncio
até nada mais sobrar deste mês perfeito
em queda livre.


fotografia de eurico portugal

21 comentários:

  1. Uma data importante no calendário português e um poema cheio de força, emanando a fragância dos cravos. Tuas fotografias também são maravilhosas!
    Beijos, poeta!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. uma data que, como tudo o que é matéria, tem corpo frágil, pele imperfeita e horizonte finito. resta a reminiscência do que não foi.

      beijos, taninha!

      Eliminar
  2. o homem e sua antiga mania de jogar pó sobre tudo!

    Um puta poema. Saio emocionada

    mais bj

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. talvez por ser, também ele, pó que acreditou na dança de deus antes de saber o que é a música...

      abraço, querida ira!

      Eliminar
  3. abril em cravos: rubro renascimento
    em sangue e verbo


    abração

    ResponderEliminar
  4. o verbo que nos galopa enquanto o sangue apodrece, neste abril de retinas cansadas e neblinas por horizonte.
    ai, portugal, portugal, de que é que estás á espera? - perguntava jorge palma... sei lá eu!?...

    abraço, amigo poeta!

    ResponderEliminar
  5. Eurico querido,
    dia da Liberdade...

    Aqui também tivemos um "Estado Novo" sob a batuta do presidente Getúlio Vargas (de 1937 a 1945), no Brasil de caráter populista, com alguns acréscimos ao trabalhador como o décimo terceiro salário, e outras concessões numa estratégia política inteligentíssima, pois eficiente ao angariar "adeptos" na massa, mas tão quão autoritário a exemplo de Portugal.

    Fico pensando em governos autoritários, que geralmente aparecem quando um país está num cenário político, econômico e social com polos opostos.

    Que historicamente uma coisa leva a outra, e o aumento na carga de impostos ao cidadão comum sempre aparece como primeira "estratégia política" de qualquer governo, até do que se alardeia democrático - depois a falta de incentivo à classe trabalhadora e retirada de alguns benefícios adquiridos (aqui no Brasil sob a égide de "medida provisória", que nunca é provisória) - consequente desaceleração do mercado - a economia esfria - então uma "nova-velha estratégia política": mais aumento de impostos - retaliação da economia - desaceleração do mercado - estagnação.
    Crise política, econômica e social de um país, de seu vizinho, de todo continente, do outro continente em que mantém/mantinha relações, e num cenário de globalização: crise mundial.

    Assim seja que as pessoas exerçam sua cidadania no ideário das flores: de forma pacífica, mas jamais passiva.
    Acredito num movimento que surja das necessidades do povo, num levante, porém pacífico, mas onde o cidadão coloque sua voz e faça sua vez. Mas a questão também é social ao se efetivar ou não uma união de forças.
    Num mundo com o poder midiático cada vez mais "democrático" - pós advento da internet, celular, penso que o cidadão, hoje, tem mais força para protestar que em outros momentos históricos, apesar de que a eficiência disso depende de muitos outros fatores.

    E ainda temos que rezar para que o mundo não regrida a um governo com punhos de Sal(e)azar:)

    Gostei muito de toda tua postagem, me suscitou uma série de pensamentos sobre assuntos que creio, deveras importantes e que me interessam muito, e que deveriam interessar a todas as pessoas.

    Beijos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. aninha,
      o que me preocupa mais neste país é toda uma trajetória de pseudodemocracia em que o poder económico (nomeadamente o bancário e a alta finança) suporta os diferentes setores sociais, significando isto que, após anos e anos de má gestão e más decisões, chegámos a um ponto de "no return": as finanças estão degradas, a europa (de que somos reféns) desacelera (para não dizer que estagna) no desenvolvimento económico e os credores passam a ser mais criteriosos na concessão de crédito. se juntarmos a isto o facto de não termos indústria nem agricultura competitivas - a única coisa que fizemos durante 20 anos foi autoestradas que... dão prejuízo pela concessões da exploração a privados - e de os bancos financiarem em condições de crédito muito exigentes os pequenos e médios empresários, o combate ao défice faz-se sempre pelo mesmo lado: o dos contribuintes. Ato contínuo, temos dois anos de sucessivos cortes nos salários, aumento da carga fiscal direta e indireta, cortes em toda a espécie de subsídios e ataque cerradíssimo ao estado social (para mim, aquilo que não pode deixar de existir, porque nenhum país democrático pode assistir à queda dos seus concidadãos). em síntese, um país adiado, que vive de sal(e) azar da época moderna.

      um país que apenas procura sobreviver acaba por morrer. merecemos muito mais do que isso, seguramente. e o 25 de abril, na substância e na forma, nunca me fizeram tanto sentido.

      beijinho desde este minho que, ainda assim, mantém vivo o verde da esperança!

      Eliminar
  6. é assustador este presente, sem luz ao fundo do túnel.
    e este silêncio...

    beijo, querido amigo!
    bela postagem.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este comentário foi removido pelo autor.

      Eliminar
    2. é preciso cantar, querida amiga, é tão preciso...

      beijinho!

      Eliminar
  7. A memória varre o pó sangrento do tempo! Nunca nos livramos das fuligens!

    Emocionante a tua lira!

    Beijos, amigo poeta das belas perspectivas!

    ResponderEliminar
  8. porque até o tempo mais perfeito acaba em voo picado ou a ensaiar queda livre, jô. e as pétalas encarnadas escondem o sangue que não foi derramado, mas que apodrece, aos poucos, nas veias dos que sonham com um tempo outro.

    beijinho!

    ResponderEliminar
  9. abril é mês adolescente
    cada olhar está diferente

    como palavra remoendo silêncios

    abs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. envelhecer sem rugas - eis a sina de abril e de tantos daqueles que fizeram da voz a sua revolução, antes da afonia.

      abraço a-berto em verso!

      Eliminar
  10. E "como um pássaro sem asas, ele subia com as asas que lhe brotavam da mão", numa espécie de revolução de cravos, ele construía o dia - ele construía utopia.
    Ainda ouço com carinho e esperança Zeca Afonso. Muitíssimo obrigada por tua amizade, por tua presença no rejaneando. Parabéns pelo nosso Benfica, agora é aguardar o Chelsea na Final!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. esse pássaro para quem o voo se faz pelo sonho, mais do que pelas asas. e logo hoje, quando, de novo, o primeiro ministro de portugal se prepara para anunciar novo pacote que atropela o ideal de abril... mesmo sem asas, que o brilho no olhar se faça candeia de jamais desistir.
      obrigado pelo teu carinho-mais-que-sentido, amiga rejane! hoje, dia em que todo o peito rejubila, ainda, com o feito de mais uma final europeia! é o regresso da grande águia; que o voo a todos inspire!

      um beijinho feito de saudades!

      Eliminar
    2. Eu agradeço tua amizade na esperança de Bach, nas asas do manuscrito de partitura original - não acredito que pacotes atropelem o ideal de abril, são os homens que conduzem os caminhos, a humanidade reagirá e prevalecerá, que o dia seja bem!
      http://youtu.be/lzQT1tTLUME

      Eliminar
    3. fecho os olhos e deixo-me guiar pela harmonia de bach e por todas as tuas palavras-amizade, pois o mais que o país hoje consegue fazer é evitar que a cabeça se precipite, em vertigem sem regresso, para dentro dos ombros. ontem à noite, caímos; hoje, procuramos perceber as perdas. amanhã, já, espero que estejamos de pé a resistir, à boa maneira de manuel da fonseca e dos cada vez mais necessários neorrealistas: "estou no meu posto a lutar".

      beijinho, amiga desse olhar tão teu, tão meu!

      Eliminar
  11. pra ti, uma porção de nozes
    http://youtu.be/JM4uazmXI_w
    um abraço bem fica em estádio dragão,
    uma graça, uma esperança: as vibrações alvirrubras.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. fecho os olhos, avivo sentidos e, a pulmões plenos de ar, sinto a força alvirrubra desta tua graça, desta tua esperança. morrer ali é-me impossível, rejane.

      beijo meu, amiga de sempre!

      Eliminar