sexta-feira, 3 de maio de 2013

Ode a Lagos


Porque de cada vez que a luz se extingue, há sempre um aroma a mar, um perfume a sol e a História, um rasto de gente:
afinal, o que dá sentido o tudo o resto.
E eu regresso sem nunca de lá ter saído.


fotografia de eurico portugal



é ali,
entre a pedra e o mar
que teces o branco, as mãos
e todas as estações;
ali,
memória de aço a arremessar
papoilas para que a religião una
e não separe;
sempre ali,
bailado frenético de azul e lábios
a afastar palavras
em cada gomo dos nossos dias;
ainda ali,
olhares-infantes na amurada
a ousar rotas e infinitos
atolados num hoje que nada sabe de
lemes, velas
ou astrolábios;
ali, e em nenhum outro lugar:

no seu rosto de madrugadas
adormecem as pálpebras
que o sonho e o homem
hão de para sempre
guardar.

fotografia de eurico portugal

11 comentários:

  1. guardar retinas, pálpebras
    a amurada de um sonho
    que se desdobra em fímbrias
    e beija as vestes da manhã



    abraço

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    1. são os rostos das madrugadas, assis, as dos homens e as do país quando no século XIV dali partiram as naves em direção à imortalidade. hoje, colhemos cacos e desperdícios.

      abraço!

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    2. aliás, século XV :) em qualquer dos casos, o sonho fervilhava, já, orlas e espuma.

      abraço renovado!

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  2. Parindo suspiros e silêncios, que a tua poesia me faz tão vida!

    Beijos,

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    1. um beijo tecido de branco, taninha, desse branco alvo que apenas a cal lacobrigense incendeia.

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  3. aroma a mar e perfume de sol moram nos teus versos,
    belíssimo!

    beijinho grande, querido amigo!

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    1. o mar que os portugueses inventaram e que, precisamente em lagos, se fez viagem no tempo e atavismo por estes dias, numa feira quinhentista; absoluta coincidência esta postagem dedicada à mais branca das cidades algarvias.

      beijo, querida amiga!

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  4. Eurico querido,
    "e eu regresso sem nunca de lá ter saído".

    Especificamente sobre Lagos, quando por lá estive fiquei em estado de graça. Senti uma felicidade como ponta de faca, e explico:
    foi em Lagos que entrei até os joelhos nas águas do mar de Portugal que tanto queria; no entanto, num dia ensolarado que fazia algo em torno de 30 graus e nunca, mas nunca havia sentido uma água tão gelada em toda minha vida!
    Uma felicidade em forma de choque!
    Senti algo alucinante que foi dos meus pés até a ponta mais comprida do meu cabelo que ficou todo arrepiado e tenho foto comprovando o feito.
    Foi em Lagos que descobri que a felicidade pode ser gelada, contanto que o coração pulse. Inesquecível!

    Beijos!

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    1. imagina, aninha, experimentar tocar a água das praias do norte de portugal, invariavelmente mais frias uns 3/ 4 graus do que as do algarve. mas, que importa? há arrepios que jamais nos deixam partir para longe.

      beijinho!

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  5. guardar o mar no peito! entendo bem dessa missão.
    bj, meu poeta querido

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    1. guardar o mar no peito: é a sina do poeta, ira.

      beijinho!

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