alguma vez precisaremos de mentiras
se acreditarmos nas coisas simples?
Jorge Pimenta
fotografia de eurico portugal
a noite segura todas as presenças
às cavalitas do tempo
com que pássaros debicam as pálpebras
e nos fazem chover.
só ali
sob o teto de estrelas
habitamos sorrisos e oferecemos as mãos
enquanto o balanço das promessas
arde na lareira do tempo.
eis a noite a inventar o calendário.
e fomos meninos
a escalar o sol em brincadeiras de açúcar
e fitas nos dedos
com que embrulhamos o coração.
e somos meninos
porque lá longe
e aqui tão perto
brincamos com os rostos silenciosos
que sustêm a memória,
os de ontem os de hoje os de sempre
enquanto deciframos mapas em que nos perdemos
e em que perdemos –
feitos de pele e lábios, uns,
pele e sangue, outros,
pele e gente, todos
– porque, com braços magros,
já não dizem mas tudo são
nesse silêncio intacto que se vê
para além dos olhos e de todo o corpo
para além das pétalas e da dor.
a noite é todas as noites,
noite feita para amar
e para o repetir com todas as palavras
noite quase gente
noite de dar nomes às flores e de saborear os frutos
noite impronunciável
noite-mesa noite-mãos noite-fogo
sobre a estrela que ilumina os caminhos.
e em todos os olhares-meninos
o tempo avança sem destino:
a noite é infinita
e todos os futuros são possíveis
à noite. sem dia seguinte.
As mais belas coincidências vêm das profundas afinidades: eu postava um comentário aqui no orvalho e tu nos presenteava com a Noite de Consoada. Não comemoro natal, mas sei que vocês comemoram, sejam felizes todos os dias, prontos para um momento de paz.
ResponderEliminarImenso abraço pra ti e tua família.
rejane,
Eliminarescutei os teus passos pequeninos, quase inaudíveis, ao fundo deste corredor-de-escrita. e que bem sentir-me acarinhado por ti, pelas tuas palavras, pela tua amizade, neste dia de consoada, que, mais do que rito ou data de calendário, é um momento de entronização do que é simples e essencial. à margem das motivações que o determinam - tenham elas a natureza que tiverem.
um beijinho, uma noite - esta - e todas as noites com a paz a adormecer-te nos braços!
voz que se reveste de lira,e tão intensa, nasceu para ser compartilhada! que bom que contamos com tua generosidade!
ResponderEliminarque a noite seja seguida de grandes realizações, querido amigo, tão especial!!
beijo cheio de carinho! Belo Natal!
jô,
Eliminaras palavras são como nós: por vezes, precisamos de nos afastar para nos vermos pelos olhos [d']outros; somos afinal, homem/mulher e todos os que o/a acompanham.
um beijinho de amizade nesta noite que é todas as noites e todos os dias!
Eurico querido!
ResponderEliminarAgradeço por fazer parte dessa mesa em que comungas com teus mais caros e conjugas em arte o verbo (a)mar.
Novamente um grandíssimo abraço natalino a ti, e também um carinho especial a tua esposa, filhos e os paizinhos!
aninha, querida amiga gaúcha,
Eliminar"amar" - o único verbo que aprendemos a conjugar no plural, o tal verbo que ensina, à margem das palavras, a reconhecer o infinito e as mãos. e como a mesa se preenche com a tua amizade e presença!
beijo para ti e para toda a família nesta data que nos perpetua nos demais dias do calendário!
euriquíssimo,
ResponderEliminarsempre achei possuidor de uma alma de noite.
é por isto que meus olhos são meio assim, de coruja, de morcego, de curiango.
de dia eu padeço tanto e a luz que vem de cima me mostra os defeitos aos quais eu já me afeiçoei.
e aí eu fico brincando de iludir o sol, a claridade e o olhar severo das pessoas.
à noite, todos os gatos são pardos, dizemos em minas gerais. e é quando sou mais feliz.
depois das 6 da tarde um vento do sul de todos os "sules" sopra as minhas brasas, e é aí que começa a arder um fogo que é misto de saudade de um tempo que eu não conheci, que eu não conhecerei.
e isto é uma temeridade, uma chaga aberta, poeta das terras de viriato.
lendo o seu texto, ardeu uma noite embandeirada dentro de mim.
feliz natal procê e pros nossos, posto que já me considero um daí.
abração do
roberto.
robertílimo,
Eliminarsó a noite consegue respirar a nossa própria respiração, lá onde só as vozes entrelaçadas ardem. e não mais sabemos adormecer; e não mais conseguimos acordar. porque as nossas mãos respiram o orvalho da noite e perder tornou-se apenas numa breve figura de retórica.
um abraço cheio daquilo que, à noite, na ribeira, e junto desse teu abraço, sei jamais perder: a tua amizade! dos meus, desde aqui, para ti e os teus, daí, daqui, e de todos os lugares-nossos!
a noite é todas as noite, feita para amar!
ResponderEliminarassim entendo
assim desejo
assim faço
e sob a face, que se vai apagando, há uma menina desembrulhando presentes. viva de curiosidade
bj, meu bom amigo que emociona
o que nos torna eternos é a curiosidade, a capacidade de nos deixarmos surpreender e de amar - só assim a noite será todas as noites e o rosto, mesmo perdendo a nitidez do traço, permanecerá inteiro.
Eliminarbeijo, minha amiga de palavra[s]!
querido amigo, não venho tão cedo quanto o desejei, mas a tempo de dizer que o teu poema tem toda a cor e brilho destes dias que nos acendem candeias nas janelas que habitamos. faz-me sonhar e faz-me ser no sonho, menina e mulher.
ResponderEliminarlevo tanta poesia comigo dos bocadinhos que por aqui passo...obrigada por tudo, mesmo!
posso pedir um abraço?
beijinho de quase fim-de-ano e recomeços.
"...e todos os futuros são possíveis"
um abraço, amiga de tantas viagens, destes orvalhos, da palavra dita, da palavra lida, da palavra pre-sentida. porque há noites que se eternizam por terem olhar de gente.
Eliminare que nesse abraço, todos os futuros [do próximo ano e dos seguintes] sejam mesmo possíveis, andy!