Éramos perpétuos um no outro.
José Luís Peixoto, Cemitério de Pianos
fotografia de jorge pimenta
São eles, os telhados, a lavar-lhes retinas ao anoitecer. Na obscuridade, mordem-lhes os dedos com figos e pão, enquanto cospem sílabas impronunciáveis com que alimentam cada escalada e precipício. Detêm-se nos corpos que, mão sobre a mão, devoram o tempo da fotografia, roída, gasta, a acariciar gavetas, por entre alfazema e roupa interior mal dobrada.
É a idade que passa, que lhes verga os passos sobre as vértebras de todos os segredos, guardando uma derradeira certeza: mais tarde será tarde de mais e já nem o nome lhes caberá no beijo.
Mais tarde é sempre tarde de mais, mas há nomes que são eternos no beijo.
ResponderEliminarMais um excelente registo fotográfico, (tão bem) acompanhado de um belo texto.
Também gostei da música, que não conhecia.
Beijinho, Jorge. Bom fim de semana para ti.
nesse intervalo de tempo, algures entre sempre e nunca, os nomes serão eles mesmos o beijo... ainda que as mãos tremam, já, anunciando o fim do toque. porque a eternidade está para lá da matéria.
Eliminara foto foi captada no mercado do bolhão, no porto, um desses lugares mágicos que transpiram tradição. susan sundford é mágica, a sua voz é, ela mesma, poesia. gosto particularmente de oblivion, que aqui te recomendo: https://www.youtube.com/watch?v=1mkUp1V3ys0
beijinho e um excelente fim de semana!
Sempre e nunca, são palavras que em tempos apaguei do meu dicionário...
EliminarConcordo, há nomes que nos beijam como se tivessem boca.
Ainda vim a tempo de apanhar a tua recomendação e de começar com ela o meu dia. Foi realmente a voz que me encantou. Obrigada, Jorge. Um lindo dia para ti.
Beijinhos.
a extinção de "sempre" e "nunca" - a certeza de que o medo mais não é do que um arrepio leve que passa...
Eliminarbeijinho, sónia!
Pudéssemos decidir sobre o tempo do amor, Jorge... Já sobre a beleza de sua poesia, certamente é eterna e sua sensibilidade infinita! Beijo.
ResponderEliminarhá um tanto da vida que decide por nós, verdade, andrea?
Eliminarbeijinhos!
Olá Jorge! Passando para te cumprimentar e apreciar este belo e profundo texto. Tens um espaço interessante e bastante aconchegante. Com certeza voltarei mais vezes, pois tomei a liberdade de me tornar teu seguidor.
ResponderEliminarAbraços e um ótimo final de semana para ti e para os teus.
muito obrigado pela visita e pelas palavras carregadas de simpatia!
Eliminarum abraço!
o tempo em tuas linhas a me fazer pensar..
ResponderEliminarbeijos Jorge.
o tempo em nossas linhas... e quanto dela não habita já as nossas, as que se nos fazem inevitáveis?
Eliminarbeijos, querida ingrid!
não sei mais, acho que nunca é tarde para nada, acho que cada beijo tem o seu proprio tempo, e cada tempo terá quiçá outro beijo, outro nome.
ResponderEliminargostei da foto e do que escreveste.
uma boa semana
um beijo
:)
tudo aquilo que dizemos perseguir mas que não temos força para deixar acontecer, assim se extinguindo na teia de um falso desejo... é desses fio que se faz o tecido do "nunca".
Eliminarbeijinho, piedade!
Jorge amigão, que lindo texto, e o tempo é algo inexorável, implacável, que não interrompe a sua caminhada, lento, sorrateiro, vai nos roubando a seiva do nosso vigor.
ResponderEliminarJorge, bela fotografia, linda mesmo, um abração e parabéns pelo texto.
verdade, paulo, o tempo e a sua inexorabilidade... e o difícil é saber que contra si travamos combate de desfecho pré-anunciado, mas, ainda assim, há seguramente muitas batalhas em que podemos derrotá-lo.
Eliminarum abração!
abração, caro amigo!
Acredito que tudo chega no tempo certo, talvez nem tarde, talvez nem cedo. Gostei imenso, mesmo com sabor a nostalgia.
ResponderEliminarbeijinhos
somos, afinal, o tempo, verdade, rita?
Eliminarbeijinho grande!
Jorge,
ResponderEliminartudo muito belo, como são tuas marcas.
Poucas pessoas passam à arrebentação comigo, mas garanto-te, essas, eu as levo para sempre comigo até enquanto eu existir.
Como fizeste uma diferenciação de gênero no título, deixo-te um poema do Mário Quintana que fala por mim.
Um beijo grande dos Pampas para ti!
- Uma alegria para sempre -
As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam.
Só no mundo do nunca
existem lápides...
Que importa se – depois de tudo – tenha "ela" partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
ao contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer.
- Mário Quuintana -
há palavras assim, palavras angulosas, percorrendo espaços no silêncio, tocando galerias invisíveis, enquanto semeiam pelo corpo e pelo que o transcende paisagens, projeções, homens e mulheres que não passam de uma catwalk viva de imagens, lá onde somos tão somente flores e tempestade...
Eliminarbeijinho, querida ana!
Ah, nunca me farto de Quintana, poeta citado pela Ana e no incipt da outra postagem, poetinha nosso, tão sábio. Olhando rapidamente os dias passados percebo que nunca temi o tempo. Uma intuição, apenas, do motivo... sou os minutos, as horas, os dias. Sou o tempo que carrego na convivência harmonica cabeça-coração, matando o desprezível, parindo os momentos da eternidade do sempre. Viver deu-me esse tempo, o de ser uma jovem velha perpétua.
ResponderEliminarMinhas reverências, poeta do meu coração e do tempo sem fim
Tanta nostalgia, na certeza que o verbo, o seu sentir...esse perdurará, com dor ou felicidade mas, vencerá o Tempo!
ResponderEliminarBeijinho saudoso, querido amigo!