sexta-feira, 25 de abril de 2014

pedras da calçada da vida adentro [XI]


I. Mil e uma faces

Os rostos escondidos, sabemos da morte do tempo com que sugámos a veia e os corpos, na avenida dos dias, são somente fragmentos a atropelar silêncios.
Neste ciclo vicioso do sangue, algum dia regressaremos?


fotografia de jorge pimenta



II. Peregrinação: a linha ininterrupta

Uma praça vazia, a geometria dos homens a oscular deuses, um livro aberto sobre a chuva e toda a existência de pedra estendida até aos ossos da voz: entre mim e o meu silêncio, estou só, nesse lugar sagrado onde até as aves deixaram de morrer.


fotografia de jorge pimenta



III. Epitáfio

Na ordem do mundo, somos luz sobre todos os lugares onde o corpo aprende a morrer.


fotografia de jorge pimenta



IV. Mapa de pele

Quanto nos cabe no beijo quando o lábio nos atira para lá da ferida aberta? Dentro de nós, perco-me num balanço algures entre a noite e a alvorada.


fotografia de jorge pimenta


18 comentários:

  1. Excelente! Fiquei encantada com a segunda foto.

    Bom fim de semana, Jorge.

    Beijinhos

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    1. o convento/ palácio de mafra é um desses gigantes que, mais do que representarem a portugalidade, invocam o homem e o seu espírito. aquela linha lavada oela chuva atravessou-me o olhar, deixando o monumento como que suspenso... não resisti ao registo fotográfico.

      beijinho, sónia, e um bom fim de semana!!

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  2. os rostos escondidos,uma praça vazia,a ordem do mundo...
    tudo nos cabe em beijo e luz.
    Versos teus que fazem-me sucumbir à reflexão sempre.
    Amo..
    beijo e um final de semana maravilhoso Poeta.

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    1. tudo nos cabe... quando sabemos abrir o mapa e todas as suas extensões de pele.

      um beijinho, querida ingrid!

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  3. Jorge, venho como motorista argentina, mas sei que compreenderás pelo avançado da hora, aqui marca em torno das 5h da madrugada e a insone por aqui chega :)

    Belos recortes de vida.
    Vou me deter no Mapa de Pele, deixando-te aqui um texto intenso do poeta mexicano, um dos meus companheiros de madrugada, Jaime Sabines, que tem um qualquer viés. Saliento as palavras dele: "... as melhores palavras de amor estão entre duas pessoas que não dizem nada."

    - Espero curarme de ti -

    Espero curarme de ti en unos días.
    Debo dejar de fumarte, de beberte, de pensarte. Es posible.
    Siguiendo las prescripciones de la moral en turno.
    Me receto tiempo, abstinencia, soledad.

    ¿Te parece bien que te quiera nada más una semana?
    No es mucho, ni es poco, es bastante.
    En una semana se puede reunir todas las palabras de amor
    Que se han pronunciado sobre la tierra y
    Se les puede prender fuego.
    Te voy a calentar con esa hoguera del amor quemado.
    Y también el silencio. Porque las mejores palabras de amor
    Están entre dos gentes que no se dicen nada.

    Hay que quemar también ese otro lenguaje lateral
    Y subversivo del que ama. (Tú sabes cómo te digo que te quiero
    Cuando digo: "qué calor hace", "dame agua",
    "¿Sabes manejar?", "se hizo de noche"
    Entre las gentes, a un lado de tus gentes y las mías,
    Te he dicho "ya es tarde", y tú sabías que decía "te quiero").

    Una semana más para reunir todo el amor del tiempo.
    Para dártelo. Para que hagas con él lo que quieras:
    Guardarlo, acariciarlo, tirarlo a la basura.
    No sirve, es cierto. Sólo quiero una semana
    Para entender las cosas. Porque esto es muy parecido
    A estar saliendo de un manicomio para entrar a un panteón.

    - Jaime Sabines -

    Beijos!

    PS.: Enviei um e-mail gigante para ti :)

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    1. garimpando silêncios, prospetando saudades, mesurando distâncias e ausências, assim é aquele que sente a vida pelo filigrana das palavras, as que se dizem e as que se guardam mudas e todas as outras que soam rápidas e naturais como a respiração - o primeiro elemento do genoma humano.

      um beijo, aninha, grato pela magia das palavras de sabines que chegam mais alto do que a própria voz consegue.

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  4. eu gostei das fotos, mas a minha preferência vai para a última.
    as tuas palavras dão sempre uma mais valia às fotos pois são de uma profundidade que cativa.
    bom fim de semana.

    beijo

    :)

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  5. A iminência da morte, como tema recorrente em todos os poemas – afinal, a terra está solta no universo.

    “ toda a existência de pedra estendida até aos ossos da voz: entre mim e o meu silêncio, estou só “
    Senti cada verso teu pulsando em mim.

    As tuas fotografias são belíssimas: um poema à parte!
    E teus poemas?
    Ah, poeta... Só me cabe agradecer a grandiosidade deste instante!
    Abraço carinhoso, Jorge!

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    1. marlene,
      "a terra solta no universo" - que imagem incrível para explicar a volubilidade da existência... aliás, porque há coisas que quanto mais explicadas menos claras ficam, é que a poesia nos bateu à porta, um dia, primeiro de mansinho para logo se tornar explosão de inevitabilidades... e nós sabemo-lo, não sabemos? :)

      um abraço amigo!

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  6. tuas imagens são poemas a parte... lindíssimas! e teus poemas, hoje não me atrevo a pichá-los com qualquer comentário!

    beijos, meu amigo das imagens tão pulsantes!
    :)

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    1. abraço-te no silêncio da tua presença, querida amiga; lá onde tudo os pequenos mistérios são faces de finas raízes a escalarem o sangue...

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  7. Há uma brilhante confluência entre as imagens e os poemas.

    Você é bárbaro!

    Beijos cristais, queridíssimo.

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    1. ver e sentir não serão duas variações de uma realidade só - a (inevitável) existência?

      um beijinho, cris-tal maior!!!

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  8. "Na ordem do mundo, somos luz sobre todos os lugares onde o corpo aprende a morrer."
    Levo sempre tanto aqui! E as tuas fotografias, um sonho!
    a musica vai comigo!

    beijinhos, querido amigo!

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    1. tão feliz com este reencontro, querida amiga!

      um beijo pleno de saudade!

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  9. saídas da mão do homem
    quatro pedras rolam
    Ele desconhece os rumos,
    as pedras também
    haverá mistério maior que o caminho de cada um?
    o homem
    a mão
    as pedras
    e toda existência é um monumento ao acaso.

    beijo-te as mãos, poeta do espanto

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    1. existência, monumento de acaso, momento da inevitabilidade: o homem a escalar montanhas e sons deslumbrados com que seduz lábios e luz. só não sabe quando conseguirá conhecer-se?...

      beijinho, poeta de tantas das minhas agitações!

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