sábado, 12 de abril de 2014

ode ao [im]possível e a outras transcendências


É apenas isso. Dorme. Talvez amanhã,
subitamente, o mundo nos pareça perdoável.

Manuel de Freitas, Lawrence's, quarto tradição



fotografia de jorge pimenta

onde o coração da terra
e as moradas sem inverno
nem rimas cansadas?
onde a raiz sem medo e
os silêncios talhados pela voz
feminina?
onde a casa e o
perfume áspero da madeira?
onde tu
ventre ileso na luz
a fervilhar pelos corpos
habitados por dentro?
onde os lugares que
no amor
nascem e morrem sem ruído?

somos o tempo por habitar
e uma leve vontade de enlouquecer
na estrada irreprimível do poema:

só o verso celebra o que
os homens extinguem.


28 comentários:

  1. Pudesse a perfeição alcançar-se na vida, como se alcança no poema...
    Belíssimo, tudo.

    Bom fim de semana, Jorge.
    Beijo meu!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. sísifos dos tempos modernos, eis o que somos... entre a escalada do cume e o recomeço no sopé, eis o poema, a parte incorruptível do homem.

      beijinho, sónia e um excelente fim de semana!

      Eliminar
  2. "onde os lugares que
    no amor
    nascem e morrem sem ruído?"

    Morremos todo dia.
    E ninguém desconfia (como diz a canção...)

    Teu poema celebra a palavra. Sempre!

    Abraço, poeta!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. de palavras nos fazemos e refazemos a cada dia, a cada celebração.

      beijinho, marlene e um excelente domingo!

      Eliminar
  3. somente nas tuas palavras podemos encontrar o que faz perdido..
    sempre.
    beijo Jorge e linda semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. e o que se nos faz perdido é uma outra forma de nos dizer, dizendo o que nunca deixámos de ser.

      beijinho, querida ingrid!

      Eliminar
  4. Meu querido Poeta

    Pudesse o tempo dar-nos tempo para atingir a perfeição...pudesse o poema escrever todas as palavras que nos habitam...todos os silêncios que calamos.
    Sempre sublime ler-te e principalmente sentir o que não se consegue explicar.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. só as palavras e o verso nos abrem por completo...

      beijinho, querida amiga do sonho!

      Eliminar
  5. acho que todos os dias morremos (um pouco)
    mas o poema fica inscrito em voos de olhas
    beij

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. somos feitos de pequenas mortes, piedade, mortes que redimem e alcançam...

      beijinho!

      Eliminar
  6. Palavras significativas, que deixam um eco na alma, uma leve vontade de enlouquecer.

    Bonito, bjs

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. palavras essas marcas que deixamos em cada deserto de pele...

      beijos, rita!

      Eliminar
  7. Pra você, meu amigo-poema, um dos nossos poetas, o meu mais querido, o mais simples e extraordinário, o do mundo, nosso Quintana

    Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...

    bj imenso

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. ira, amiga-poeta-poema,
      falas-me de pássaros para plano-de-verso, aves para rota de alimento e saciação, pássaros que, para existirem, erguem mais alto que o voo a própria ferida assim despindo palavras quando só os silêncios magoam. são palavras brancas, palavras frias como o chão que as sustém, trajeto de grito à espera desse deserto por habitar, dessas ilhas por aportar, aí mesmo onde os aguardam frutas e vinho, aí onde os deuses de carne e o osso o esperam mesmo que sem saber voar.

      grande tu, grandiosa a tua poesia e a tua amizade!

      beijos mil!

      Eliminar
  8. Meu querido Poeta

    Hoje passando para desejar uma Feliz Páscoa , plena de amor e paz, junto de todos que te são queridos.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. feliz páscoa para ti e para todos aqueles que te são queridos, amiga do sonho!

      beijinho grande!

      Eliminar
  9. Jorge,
    assisti semana passada, novamente, depois de um intervalo de mais de 10 anos, a um dos filmes de minha vida: Sociedade dos Poetas Mortos. Talvez nenhuma película represente tanto minha essência, e de quem me faz essência...

    Lembro-me que assisti pela primeira vez em 1990. Esta experiência mais recente, guardou ainda em mim todo o frescor... tudo aquilo que nem sei explicar...
    Chego aqui nas tuas letras, e tudo, tudo faz tanto sentido... e me cabe tanto...

    Beijos e saudades

    PS.: Feliz Páscoa, espero ainda em tempo. E envies, por favor, um abraço imenso aos queridos Hernâni e Fernanda, que sempre estão presentes nos Pampas. Na última quinta-feira, na ceia, abri um Porto, ainda souvenir da viagem... Impossível não recordar deles. Se leres isso antes do almoço de Páscoa, transmitas um abraço aos papais com apreço imenso deste lado do oceano.

    PS2.: Deixo aqui, uma das preciosidades. Só encontrei dublada.
    Quem sabe, talvez um dia, seja possível perdoar o mundo...

    http://www.youtube.com/watch?v=EEK1HEtQ5jM

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. aninha,
      conheci um sujeito espanhol que, de tão apaixonado que era por gabriel garcia marquez e pelo seu/de todos/da humanidade "cem anos de solidão", colecionava o livro em cada uma das línguas em que estava traduzido; fazia-o sempre que visitava um país. uma ideia genial, pois um livro, sobretudo aquele livro, o tal livro que nos descreve mais do que nós a ele, tem um poder simbólico e representativo muito maior do que uma qualquer bugiganga local ou um íman de frigorífico mais chinês do que do local para que aponta (íman que eu próprio coleciono :)).
      transpondo a questão para a sétima arte, os sistemas de gravação revolucionam a vida dos filmes e de quem os assiste - recordo-me dos beta, vhs, mais recentemente do dvd e agora do blue ray - e, inevitavelmente, há filmes que deixo de poder ver porque os equipamentos avariam, são substituídos e desaparecem no fundo do pó da garagem. poderia dizer que é no instante de arrumar/me livrar de toda a videoteca, quando passo de um sistema para o seguinte, que percebo como colecionei lixo - mas não o faço; antes procuro entender o que mudou em mim.
      o clube dos poetas mortos é um exemplo vivo do que se faz definitivo e perene nas nossas vidas como nas prateleiras da sala. chegou-me às mãos, pela primeira vez, em vhs, depois de uma experiência inesquecível no cinema justamente no ano de estreia (e como me fez sentido, eu que à data estudava para ser, precisamente, professor; quem não se imaginou mr. keating, captain, my captain?); acabei por comprar em dvd anos mais tarde quando o equipamento de reprodução vhs avariou e só não o tenho em blueray porque não aderi (ainda?) ao sistema. é um dos três filmes da minha vida, a par de "o carteiro de pablo neruda" e "mediterrâneo". e como recordo desta passagem que me enviaste, passagem em que se opera um dos milagres maiores, metáfora do poder de transformação que o professor pode ter sobre um aluno - mais do que ensinar, é ele um prospetor de capacidades que estão lá instaladas mas que nem o próprio suspeita que tem, por isso descrê delas e de si mesmo.

      beijinho com saudades, depois de uns dias em repouso e neste regresso à casa da mãe para uma páscoa em família; com certeza que os abraços serão distribuídos pela ordem por que os enuncias, assim como as saudades que são recíprocas de ambos os lados do oceano. desejo a ti, a luíse, ao pedro e demais família uma feliz e harmoniosa páscoa!

      Eliminar
    2. Consegui vir rapidamente agora, pois hoje é feriado nacional. E será inevitável um próximo café contigo, Jorge, café forte regado a horas de conversa pelo tanto que nos faltou. O tempo foi pouco da outra vez. Em algum momento tomo coragem (mais coragem do que qualquer coisa preciso :) e pego um TAP :) Mas enquanto isso... Sim, sim, Mediterrâneo, Sociedade dos Poetas Mortos, O carteiro e o poeta (nosso título por aqui), também Pontes de Medyson... maravilhas! Preciosidades! E também aqui no Brasil com o título: Furyo em nome da honra, no original: "Merry Christimas Mr. Lawrence" (do Akyra Kurosawa), sabes? Com o David Bowie? E "O Grande exército de Brancaleone", (dos anos 60), entre tantos... Não conseguiria elencar quais os três que mais me tocaram, mas os que mais me tocaram, além dos clássicos: "Cantando na chuva", "The party" (do Blake Edwards), filmes para sempre e que sempre, como muitos dos versos, conservam o mesmo frescor em mim, essa sensação de orvalho que bem conhecemos. Essa coisa que nos faz eternos adolescentes.
      E os argentinos, que espero, um dia os assista, Jorge:
      "E secreto de sus ojos", "Plata quemada", "El lado oscuro del corazón" (descobri que existe uma continuação com os mesmos atores, depois de 20 anos, acreditas? Em algum momento de passo um trecho), "La luz sobre Avellaneda", "El hijo de la novia", "Medianeras"... enfim.
      Fico imaginando a magia que o Sociedade dos Poetas Mortos despertou em ti, que és professor. Em mim, alguém que tive uma singela experiência nesses termos fazendo a oficina poética para as crianças, que na verdade, a fizeram por mim... ainda hoje, alguns deles vem me abraçar com muito carinho, perguntando pelos bonecos e a sequência de nossa conversa. Abraço muito os baixinhos (depois, entro no meu carro e choro...), algo ali deixamos, essa troca que a combinação de verso e verbo fez e que é irretocável, e que é para sempre. Eis a "luz que nunca se apaga".
      Também tenho na minha pequena coleção do Oscar Wilde, publicações de mesmos livros, mas nos diferentes idiomas que consigo decifrar. Curiosamente, exceto no inglês, que é o idioma de origem de Wilde.

      Agora, um churrasquinho em família e mais uma garrafa de Porto.
      Espero que os papais estejam bem. Saudades da tua mami. Sonhei esta noite com ela, depois de muito tempo sem 'conversarmos pelas nuvens' :)

      Ah! Aqui o trailler:
      http://www.youtube.com/watch?v=ER2gQbca9d4

      Grande beijo entre versos!

      E, sim, mais um, dois ou três cafés serão inevitáveis.

      Eliminar
    3. aninha,
      o tempo faz-se sempre mais curto do que tudo o que queremos dele e em se tratando da celebração da amizade, é apenas grãos de areia a escorrer por entre os dedos. mas sim, o café negro, quente e forte está prometido nesta braga ou numa outra qualquer.
      recuperando os novos títulos que enuncias, pontes de maddison county é uma grande estória - dos raros exemplos em que o filme não é pior do que o livro :) - que se torna inesquecível por nos mostrar como nada é definitivo e nenhuma verdade se sobrepõe às demais.
      merry christmas, mr. lawrence vi-o quando ainda menino, era bowie já um monstro sagrado cuja prestação me surpreendeu... a banda sonora, de sakamoto, uma maravilha! aliás, depois deste, registo ainda uma outra prestação verdadeiramente camaleónica e talentosa de bowie: basquiat, o filme sobre o pintor underground e neoexpressionista jean-michel basquiat.
      mais recentemente, perdi-me de amores por "cartas de iwo jima", um filme realizado por clint eastwood em que os vilões, afinal, não são mais maus do que os bons - como o foco faz divergir as leituras, verdade? todos homens, afinal...
      tanto mais para partilhar...

      beijinho por entre tragos de café, umas quantas gotas de porto e muita amizade!

      p.s. missão cumprida: os abraços foram deixados em casa dos meus pais :)

      Eliminar
  10. Nossa Jorginho, e eu acabo de ler Manuel de Freitas... estamos mesmo todos ligados, e só o verso, a palavra: nos celebra e une.
    Tua poesia é plena e necessária!

    P.S.: Vc me permite compartilhar esse teu poema com os devidos créditos no Facebook? Aguardo tua resposta. Beijo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. manuel de freitas inscreve-se numa nova vaga de poetas portugueses cujo talento é maior do que toda a palavra. adoro! e tolentino mendonça, conheces? uma leitura que recomendo vivamente. somos assim mesmo, uma teia de versos em permanente construção daqui para aí e daí para todos os lugares onde haja um homem e a sua respiração.

      beijinho grande congratulando-me com este cruzar de vozes que se repetem e agigantam à esquina da poesia!

      p.s. a resposta à tua pergunta é, obviamente, sim. e como me honras com essa distinção :)

      Eliminar
  11. O mundo precisa conhecer quão grande é tua poesia, por isso partilharei na minha página no Facebook. Beijooo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. pelo verso planeamos todas as presenças sem medo de nada.

      obrigado, pelo teu carinho, querida adri!

      Eliminar
  12. Jorgito, diretamente da Catalunha, uma rosa rubra pra ti. Salve Sant Jordi!

    bj especial

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. ah, a catalunha, um dos maiores poemas da minha vida. terá vindo esta rosa com o perfume do teu sorriso diretamente do mercado de la boqueria? :)

      beijinho de jordi, pouco sant :)

      Eliminar
  13. esta vontade de enlouquecer não se extingue
    e no poema reverbera
    o que os homens fingem


    abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. e a propósito do teu derradeiro verso, ocorre-me que o poema diz o que finge fingindo o que diz...

      abraço!

      Eliminar