quinta-feira, 20 de março de 2014

pedras da calçada da vida adentro [X]


nada do que morde me leva o lábio...
Jorge Pimenta



I. O medo das palavras que não sei dizer

É assim o silêncio, cúmplice do tempo  a desflorar pétalas e a calçar sombras no abandono da idade.


fotografia de jorge pimenta



II. À mesa do tempo

Deixa a vaga de silêncios adornar a pele, assomando sulcos por cada letra trémula no vocabulário das mil e uma mentiras. Schiu... escuta o silêncio porque tudo em que crês é surdo, seco, sórdido como o oceano e aquelas palavras que a idade retém na boca para não coagular lábios. Psssst, dá-me a tua mão, enquanto esboçamos, juntos, percursos para a ilusão, devagarinho, sem ruído, não vá a nossa ousadia acordar o tempo.


fotografia de jorge pimenta



III. A arquitetura do ser

Na simetria dos passos, rostos vendados a dissipar labirintos e presságios enquanto recolhem as linhas que perderam na travessia da noite.


fotografia de jorge pimenta



IV. A trilogia da espera

Quanto de mim fica no tanto que em ti parte?...


fotografia de jorge pimenta




25 comentários:

  1. Oi Jorge!

    Belas Fotos! Com muita qualidade.O tempo passa e as fotografias vão mudando de acordo com a tecnologia.Eu acho as fotos antigas fascinantes, admiro a nova tecnologia, as antigas traz recordações e lembranças do tempo que se foi.

    Bom fds
    Abraços
    Nati

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    1. só na fotografia o tempo boceja e adormece, entronizando-nos apolos e vénus de tinta e eternidade...

      beijinho, nati!

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  2. Maravilhoso, Jorginho! Esta última sucinta e ofegante. Beijos!

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  3. Jorge,
    Maravilhosa publicação!
    Nem imaginas como é bom interromper um pouco o trabalho e vir por aqui aos goles de um café ‘meio-forte’! :)

    Nada sei... apenas sinto, que quando o amor morde, sim, leva nossos lábios e tudo mais que nos contorna. Nesta última madrugada, tive acesso ao texto do poeta mexicano Jaime Sabines: Espero curarme de ti, - onde ele pede o tempo exato de uma semana para a amada que o abandonou, para se recompor e queimar seu amor. Deixo-te o finalzinho: “Sólo quiero una semana para entender las cosas. Porque esto es muy parecido a estar saliendo de um manicômio para entrar a um panteón.”

    Quanto aos teus quatro tempos. Eis a palavra: fusão.
    I. fusão com nós mesmos
    II. fusão com o tempo
    III. fusão com (nossos) cenários
    IV. fusão com quem amamos.

    Este último ficou aqui dentro Jorge. Pergunta e resposta simultâneas (basta retirar a interrogação, verdade?). Escrevi há uns dias um pequeno conto que tem qualquer viés. Daqui a pouco retorno com ele aqui por curiosidade, tá bom?

    Beijos!

    PS.: Um grande abraço para ti e seu Hernâni por mais um dia dos pais. Por favor, diga-lhe que o pessoal do sul do Brasil lhe enviou!

    PS2.: Neste fim de semana irei à exposição de fotografias de Sebastião Salgado aqui em Porto Alegre na Usina do Gasômetro (espaço hoje dedicado à cultura e artes, à beira-rio Guaíba). Vambora? :)

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    1. aninha,
      curiosa e bem próxima da forma como concebo a fotografia esta tua leitura da postagem aqui publicada. nem de propósito, catalogo as minhas fotos numa sequência que em tudo se assemelha ao que aqui escreves: o homem e o tempo; o homem e a pedra; o homem e a arte, o homem e a natureza; o homem, ele mesmo.
      e por falar de fotografia, sebastião salgado é um monstro sagrado; contactei com o seu trabalho, pela primeira vez, num livro-reportagem que dedica inteiramente a áfrica. assombroso e inspirador, no mínimo. depois disso, e antes de me dedicar à fotografia com algum grau de sistematização e critério, cheguei a postar textos e reflexões no blogue (creio que ainda no viagens de luz e sombra) com fotos suas; recordo-me de uma em particular que exerceu sobre mim um renovado olhar sobre a composição e sobre o papel do ser humano nos registos... olhares sempre comprometidos e comprometendo-nos.

      beijos muitos para ti e toda a família, agradecendo (e prometendo entregar pessoalmente) o abraço a meu pai!

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  4. Jorge,
    eis meu conto, apenas por curiosidade.
    Beijos!

    - Última cena -

    Então era assim a sensação de despedida experimentada pelos personagens em filmes românticos brindados a cor rosa, beijos doces e pontes sobre rios sólidos a escorrer entre um e outro canto dos lábios. Um vazio como se mais uma bolha de ar o preenchesse por dentro.
    - Cuida-te – foi sua última fala antes de tomar distância em voo rasante.
    E o mar ali tão perto..., ainda pensou antes de alçar-se.

    - Ana Cecília Romeu -

    PS.: Esta tua pergunta/resposta/poema... ainda colocarei como incipt em algum momento. Posso?

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    1. lendo este teu conto percebo como, de repente, as nossas palavras têm navegado numa mesma direção... e o mar, mesmo que tão perto, se faz tão surdo e silente, verdade?

      acerca do pedido: é uma ordem - tua/teu, como incipit ou não, a pergunta/resposta/poema.

      beijo renovado!

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  5. teu tempo partir
    tua ampulheta medir
    e como não te sentir?

    sempre onde na verdade, medes sem tempo pelo tempo..
    adoro o colorido que o preto e branco dão às tuas palavras.
    beijos sempre..

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    1. quantas vezes nos escondemos nessa cor amarga do fim do tempo?...
      o preto e branco cicatriza tanto do mundo...

      beijinho, querida ingrid!

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  6. todas as fotos "falam" de tempo.
    as palavras sábias como companhia das mesmas.
    gostei de todas.
    saliento a última pelo pormenor do foco.
    obrigada!
    boa semana.
    beijos

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    1. o tempo é, afinal, o artesão que nos modela. as imagens, apenas algumas das formas de o sentir.

      beijinho, piedade!

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  7. Esse silêncio é, muitas vezes, imposto pela ausência de ouvidos que aguardem palavras, depois de muito caminho no tempo. As linhas perdidas são irrecuperáveis e só têm vida nas lembranças. Ainda que o sentido de suas palavras tenha outra direção, as imagens que falam me passaram, de pronto, esse sentimento. E me encantam. Bjs.

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    1. e não é esse o prazer maior da leitura/literatura/fotografia? abrir caminhos que tantos pés percorrem ao seu ritmo, do seu jeito, sem tempo - porque eles mesmos.

      beijinho, marilene!

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  8. Linda publicação Jorge, tenho notado uma coisa, não é só um talento descomunal com as letras que você exala, mas uma sensibilidade fotográfica incrível, e aliada à sua escrita, é um casamento perfeito, lindas fotos (e amo fotos em preto e branco) mesmo, e belo texto, parabéns Jorge.

    Um grande abraço amigo.

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    1. obrigado, caro amigo. fico imensamente feliz por te sentir por cá e, sobretudo, que tenhas apreciado as palavras e as suas legendas no traço!

      um forte abraço!

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  9. em espera, em aguardo
    as palavras migram
    nas horas que se elevam



    abraço

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  10. Meu querido Poeta

    Fica sempre algo por dizer entre o gesto e o tempo...entre a razão e o coração.
    Como sempre o que dizer, quando as tuas palavras dizem tanto.

    Um beijinho com carinho e admiração
    Sonhadora


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    1. o que se não diz revela tão mais do que ousamos dizer...

      beijinho, amiga sonhadora!

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  11. Jorge, o que mais me agrada de o ter por aqui encontrado, é realmente, poder olhar através do olhar "de quem tudo vê". A sensibilidade de quem vê o que à maioria nos escapa, associado à arte que possui com as palavras, é simplesmente maravilhoso.
    Mais um excelente post. Grata por este momento.
    Deixo um beijo.

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    1. são assim os trabalhos do olhar: eis uma outra forma de dizer "poesia". e como tu sabes de que tecido se urde essa linguagem, sónia...

      um beijo grande e um agradecimento!

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  12. Jorge, querido amigo. Ando sem palavras...mas estou aqui. Levo a música para o Lua, oxalá não te importes.
    um beijo, amigo lindo!

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  13. "Quanto de mim fica no tanto que em ti parte?..."

    Este roubou a cena no meu silêncio...

    e tão pulsantes imagens...

    beijo, meu amigo!

    Desculpe-me a ausência!

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