sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

pedras da calçada da vida adentro [IX]



I. Palavras e assim

Há palavras assim, a beijar-se na boca apagando os precipícios agarrados ao corpo.


fotografia de jorge pimenta


II. Um tampo de primavera na mesa

Um jato de tinta a afiar a folha de papel, o aroma a primavera, amoras e palavras silvestres em sedução mútua, um café escuro e alguns gomos de espantos a escorrer sumo pelos dedos. Tudo de ti aqui, em cima da mesa, ao lado de uma aragem simples, sem nome, empurrada pela lua com as mãos à espera de um gesto simples, talvez um verso, uma rima, ou quem sabe se aquela blusa vermelha com que escondias vertigens. Tudo isto aqui, em cima da mesa, num gesto sem aviso a iluminar o sol. Tudo isto aqui, o medo a ciciar aquilo que morreu.


fotografia de jorge pimenta


III. O que resta além da água?

Foi ontem, o dia em que afastaste os lábios em direção ao mar e toda tu foste lição de água a alagar a matéria envenenada dos corpos. Hoje ainda é inverno e na caligrafia do tempo evaporam-se recordações em braçadas de luz e instinto; mas, algum de nós o sente, ainda?


fotografia de jorge pimenta


22 comentários:

  1. pela vida vamos levando as impressões que nos marcam ..
    e aqui um sentir ímpar ..
    beijo Jorge. Um lindo final de semana.

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    1. os meus ouvidos entregues às tuas palavras: as impressões que nos marcam como flor de lótus a abrir por dentro...

      beijinho, ingrid!

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  2. Jorge, há mesmo "palavras assim, a beijar-se na boca apagando os precipícios agarrados ao corpo".
    E eu hoje demorei-me nas tuas, no conjunto das imagens e até na música. Não me apetecia comentar, apenas saborear...
    Grata por este momento.

    Deixo um beijo.

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    1. e como elas, as palavras, ruborizam no encontro com esse teu demorar de pálpebras, sónia.

      um beijinho!

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  3. Tuas fotografias poematizam sem palavras. Mas tuas palavras arrancam-me tesouros secretos...( o medo a ciciar aquilo que morreu). Tua poesia foi amor à primeira vista. E continua...

    beijos, Jorginho

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    1. e o poema a ruborizar na timidez desses mundos secretos que apenas ciciam por terem medo das palavras...

      beijos, taninha, poetamiga de todo o tempo!

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  4. As fotos lembram os lugares imensos que cabem na gente, e quando querem passeio, extravasam pelas mãos...também pelos olhos! Tuas palavras nos 3 textos comprovam isso!

    Tudo lindo e ainda a canção pra chamar a gente de volta pra dentro da gente!
    Adorei!!

    Beijos, meu amigo das imagens sempre pulsantes!

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    1. além do mais, são elas, as fotografias, esse tempo mais-que-perfeito que assiste ao envelhecimento das formas que lhes concederam os reflexos enquanto namoriscam discretamente com o tempo sem idade...

      beijos, jô, poeta das palavras que chamam a gente para dentro de outra gente!

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  5. Fiquei parada nas imagens extraordinárias e pensei: como gosto das ruas! para o poeta, não conheço melhor exercício que as calçadas das cidades e os pés que as fazem vivas. Vc está terrivelmente fotógrafo da vida adentro!

    os textos dizem tua rara sensibilidade, mas o segundo me pegou a primeira vista. O corpo branco do papel, sobre a mesa, as sensações deslizando das mãos, os signos chegando dos lugares que andaram agitando palavras, a vertigem, ufa! e por fim, o medo inevitável das coisas findas a falar baixinho. tudo mt lindo!

    bj imenso, poeta querido

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    1. conhecer as ruas e os segredos da sua tristeza... olhá-los com palavras e escrevê-los com retinas, um exercício que me aproxima do que de mais verdade porventura tenha...

      beijos, iríssima!

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  6. Sobretudo as metáforas!...
    Como se nos emprestassem uma das asas e o voo partilhado acontecesse...

    Um beijo

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  7. Todas as palavras dentro de um verso meu e seu. Rimas que são desfeitas em primaveras, escrevendo cartas de outono.

    Belo meu querido poet'amigo!!!

    Beijos

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  8. Meu querido Poeta

    Há palavras que são silêncios e há olhares que são beijos e eu fiquei como sempre muda e sem conseguir dizer o quanto te senti.


    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  9. Primeiro namoro suas fotos e ouço a música (rss). Depois é que tento entrar na motivação de suas palavras. Digo tentar porque o sentimento de quem escreve é único e pode despertar outros que não participaram do processo. O que está presente, sempre, é a riqueza com que explana suas ideias . Não há necessidade de interpretá-las. Basta-me admirá-las, com gosto. Bjs.

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  10. há palavras e beijos que ficam (sempre).
    -
    o medo existe (sempre) mesmo que seja ciciado.
    -
    a água...e quem disse, que não se pode escrever na água, eu à vezes escrevo.
    -
    as fotos, como sempre, bonitas.

    :)

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  11. este final em líquido me queima as retinas


    abração

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  12. Oi oi passo por aqui para deixar o meu carinho e a minha paz,aproveitando para te desejar um bom resto de mês de fevereiro,termina o teu mês em tamanha beleza. Muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt

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  13. tudo pejado de uma sensual nostalgia...
    a água que gela, o fogo que queima...
    sensações tão antitéticas...reflexos de um mesmo sentimento...
    assim nos deixamos guiar , neste caminho talhado de oxímoros...
    e as imagens preenchem esses vazios de silêncio ...
    beijinho meu, poeta-fotógrafo, amigo querido!

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  14. Jorge, meu tão querido amigo!
    Venho como motorista argentina, minha especialidade nos últimos tempos :)
    (receio não conseguir fazer mais nada que não seja velozmente...)

    Lembrei-me do poema Papel Mojado de Mário Benedetti. Deixo-te aqui em tradução livre minha.

    - Papel molhado -
    Com rios
    com sangue
    com chuva
    ou orvalho
    com sêmen
    com vinho
    com neve
    com pranto
    os poemas
    costumam
    ser papel molhado

    Beijos de orvalho!

    PS.: Tenho memória de elefante para o afetivo, se fosse para eu responder ao último poema diria: sim.

    PS2.: Nem poderei apreciar as tuas fotografias, estou com um problema no monitor do lap, e literalmente, enxergando "la vie en rose" hehe ... Sim! Tudo está em tons magenta... (penso ser praga dos colorados :) e nem posso alardear isso, pois o técnico que vai consertá-lo é do Internacional... aff!

    PS3.: Enviei-te e-mail.

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  15. Grande poeta Jorge, como estais? Bem, já te confessei antes e reitero, fico meio com as mãos atadas em comentar os seus poemas por serem tão profundos e belos e não sei comentá-los com profundidade, só apreciá-los e me limitar a dizer que são belos e extraordinários, essa é mais uma situação, já a banda eu já conhecia e essa canção é muito legal, não sei como se há feriado de carnaval ai em Portugal, mas caso haja, bom feriado pra ti e um grande abraço.

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  16. primaveras, labios em flor e a nostalgia que nos persegue nas coisas mais simples...
    tao belo, querido amigo!
    soube-me tao bem este bocadinho, a música e as fotografias. com vontade de ficar...

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  17. Jorge Amigo Querido.
    Eu demorei a voltar prometo ser mais presente no seu blog
    estou resolvendo algumas coisas do outro lado da telinha,
    mais guardo no coração cada amigo ou amiga
    que Deus me deu e agradeço por isso sempre.
    Sua postagem esta linda és um grande menino poeta
    sua sensibilidade é a flor da pele grande poeta.
    Um feliz final de semana abraços.Evanir...

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