sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

sopros de infinito para ato único


as mãos, os pés calçados de luz, olhos inchados
ele caminha
vinho, bebe vinho como os deuses
esquece os corpos que o povoam, ouve vozes
pressentem-se vozes
[...]
caminha, resta-lhe perder a memória
esvaziar-se

Al berto


fotografia de jorge pimenta


nenhuma atenção se recorda
de mim
em cada acaso de infinito
e sopro de intento,
as possibilidades cresceram para as mãos
como ciência errática
e sabedoria infusa.

eis-me o instante,
apenas esse ponto-vestígio
e luz indestrutível de todo o
cabimento
no palco iluminado de nadas
onde a linguagem do coração
representa brisas
e atiça ouvidos.

dás-me a dança invisível
para sonho descosido
nessa peça onde açucenas ousam
lugares e alguns regressos

e eu aqui,
palavra sem sintaxe,
apenas céu aberto
em voo de rotações e translações
para ato único.


24 comentários:

  1. em um só ato
    e a peça
    a se cumprir



    abraço

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    1. "a peça / a ser cumprir": conjugação de vida em perífrase.

      abraço, assis!

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  2. ato único e sem plateia(ela existe em nós)

    monólogos (sem palavras) calados.

    o actor único e insubstituível.

    gostei!

    a foto está fabulosa.

    beijo

    :)

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    1. quantos papéis nos cabem na pele nesse "ato único e insubstituível?"

      beijos, piedade!

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  3. "dás-me a dança invisível
    para sonho descosido
    nesse palco onde açucenas ousam lugares
    e alguns regressos"

    e eu aqui
    pondo-me mira de impregnações
    e desvio de desperfumes

    tua essência é única, Jorginho!
    Beijo, meu poeta amigo das imagens pulsantes!

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    1. boca impregnada de silêncios, pois a gravidez, aqui, é essência e aroma: a das palavras de "essência única" - a tua, jô!

      beijos e toutes les senteurs!

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  4. sim, claro...
    a linguagem do coração
    representa brisas

    e atiça ouvidos. (...)

    a linguagem do coração, a universal.

    e aquele "Al Berto", ali em cima, ein?
    Depois vou lhe pedir que compre pra mim aquele grossão, das Obras Completas. Ainda neste inverno.

    Saudades bracarenses, JB da Terceira...rs

    Abração do

    R.

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    1. o medo, assim se chama a antologia do al berto. é esse grossão, mesmo. trato disso, caro amigo.

      um abraço com os signos universais da amizade!

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  5. Jorge,
    reservei um tempo esta tarde para visitar alguns blogs, incluso o teu. Chego aqui, já pela segunda vez, em um estado de desconcentração tamanha... coisas de final de ano, como bem sabes.

    Por vezes, a vida nos torna raros os atos únicos, e cada vez mais frequentes os inúmeros atos, os que não são únicos.

    Retorno com a atenção e carinho que o teus poemas e fotografias merecem. Isso nos próximos dias.
    Não te preocupes que chego antes do voo da TAP... se bem que não será má ideia chegar junto a ele, ou dentro dele :)
    Fiques aí quietinho me esperando, tá bom? :)

    Beijos e saudades: uma gota de orvalho para cada presença!

    Que é o mesmo que te aconselhar a usar um escafandro :)

    PS.: A Luíse disse outro dia que a capital da França é Lisboa! hehe Depois de saber que é Paris, me disse então que a capital do Uruguay é Lisboa... Pois existem atos únicos além-tempo, verdade Jorge? E eu aqui... com tremenda saudades da Maggie, já planejando, as adolescentes, alguns pulinhos em hotel. Assim seja!

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    1. aninha,
      mesmo aqueles que se repetem se tornam tantas vezes únicos por nada ser repetível. aliás, sophia de mello breyner escreveu, um dia, qualquer coisa como as coisas eram tantas vezes repetidas mas pareciam a cada ano mais belas e mais misteriosas.
      fico, pois, à espera da chegada desse voo de porto alegre, com uma adolescente que me acompanha na espera, sedenta de boas gargalhadas e saltinhos em hotel :)

      beijos de orvalho, esse que persiste em cair nestas manhãs frias, secas e soalheiras que o outono nos tem oferecido. a propósito, não me recordo de um portugal vestido, durante tanto tempo, com os tons amarelados e avermelhados dessa estação tão especial.

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    2. Jorge,
      retornei como te disse para uma leitura mais atenta, e o único que me ocorreu a mais foi a lembrança de "Mediterrâneo", um dos filmes da minha vida, que aqui em casa tenho em DVD, e procuro assistir não mais que uma ou duas vezes ao ano, para que não se mate o ato único pela repetição, e não se torne, sublinho: repetitivo. Como dizia Oscar Wilde, e concordo plenamente: "toda repetição é anti-espiritual". Pois que os atos únicos, mesmo que se repitam, sejam como o orvalho..., diferente a cada manhã.

      Venho neste fim de tarde dos Pampas em tons rosados, vento nordestão em mais de 30 graus e uma xícara de café forte na mão direita, para despedir-me... neste ano...
      Desejo a ti, a tua esposa Anabela, a minha muito amiga flor Maggie e ao Gonçalo, extensivo ao seu Hernâni e a Fernanda, que tenho igualmente saudades imensas..., um Feliz Natal, com união familiar; e um novo ano mais leve, a conjugar as palavras: saúde e sempre.

      Deixo-te, por fim, Jorge, um pequeno presente, de Benedetti, e bem o sabes que não posso ficar sem citá-lo. Em nome de nossa amizade, que de minha parte se fará eterna, posto que no hino de meu Grêmio se diz: "até a pé nós iremos!". Sempre e avante!
      Mais um abraço de amizade, da liga, abraço da alma, que nós gaúchos chamamos de: pealo de sangue.
      E beijos dessa tua amiga brasileira-uruguaia, Cecília

      Eis aqui o presente de Natal em forma de simplicidade, para ti:

      Botella al mar
      -Mário Benedetti -

      Pongo estos seis versos en mi botella al mar
      con el secreto designio de que algún día
      llegue a una playa casi desierta
      y un niño la encuentre y la destape
      y en lugar de versos extraiga piedritas
      y socorros y alertas y caracoles.

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    3. não, aninha, não é o mediterrâneo, mas o frio e tantas vezes escuro atlântico que deixa vogar até mim essa mensagem de amizade perene, fechada em garrafa e que as ondas me depõem nas mãos; o mar, sempre o mar, no seu infinito estender de braços e alongar de dedos, o mar que, como esse tal de mediterrâneo (e agora falo do filme, também para mim uma das películas da minha vida) é um hino à amizade, à perseverança e um grito de antes morrer do que viver sem esperança.

      um beijinho, ainda não de natal, pois até lá outras vagas enformarão novas palavras!

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  6. esquecer-se talvez seja o mais honesto ato único. mas o que fazer com as brisas e o coração em diálogos constantes?

    lugar comum dizer que tua poesia mora em mim?

    bj tuas mãos, Jorgito querido, em atos repetidos e com a admiração que elas merecem

    ah, é mesmo o des-Alinhado e a foto é pra homenagear essa poeta do tamanho do oceano que nos aproxima, sempre. minha gostada amiga mãe de Afonso

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    1. o esquecimento: a verdadeira certeza de que a memória existe.

      p.s. a memória: essa luz que rasgamos de baixo para cima à espera de que tudo seja novo ali.
      p.s.2: o esquecimento: a linha a consolar mentiras.
      p.s.3 tudo atos únicos, mesmo quando repetidos.

      beijos, minha poetamiga de alguns dos meus atos únicos.

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  7. eis-me o instante, e todo o tempo... luz, fogo e explosão com as tuas palavras...

    beijo, amigo lindo!

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    1. tão bom arder na presença das tuas palavras, querida andy!

      beijinho!

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  8. Nossa, o poema é todo ele arrebatador; mas essa sabedoria infusa me fez abrir as portas para os delírios. Poeta. Grande. Querido.

    Beijos, Jorginho!

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    1. sabedoria infusa: porque tudo começa a morrer naquilo que sabemos.

      beijo, taninha, amiga-poeta de tantas viagens!

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  9. Muito cabe em um instante, antes que o ato termine.
    Suas fotos são maravilhosas, Jorge. Emolduram os versos que nem tenho mais adjetivos para qualificar. Bjs.

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    1. que esse instante onde tanto cabe se faça a peça inteira, marilene.
      as fotografias: uma paixão recente que me conduz a tantas outras viagens :)

      grato pelo carinho. beijos!

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  10. Toda ouvidos para a linguagem do coração...

    Nada mais a soprar
    além das açucenas
    e sumo do poema

    ...

    Tua lira é de primeiríssima safra!

    Beijos cris-tais, poeta primoroso.

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  11. quantas vezes a voz se apaga na mudez do próprio coração quando se esquece de que cada ato pode ser ele mesmo e nenhum outro.

    sempre única a tua presença por cá, poeta de cris-tal!

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  12. a linguagem do coração...essa a linguagem universal,
    essa que transforma o SER plural em SER único, singular...

    Beijos, querido amigo, poeta das palavras e da imagem!

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    1. e, todavia, o código mais difícil de ser aprendido, verdade, querida amiga?

      beijinho!

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