No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas
que o vento não conseguiu levar...
Mário Quintana
fotografia de jorge pimenta
fechei o
livro e todos os rostos que nele
habitam.
já sei tudo,
tudo:
barcos mares
marinheiros
e toda a
ancoragem de árvores no peito,
aprendi
rostos em penumbra
sorrisos de
meio lábio
e todo o
fogo,
achei
cânticos embriagados e telhados
ainda vozes
que crescem no labirinto
das mãos.
sim, tudo
sei:
da morte e
da loucura do sangue
da mitologia
da ausência
ou das
noites inteiras, intactas, soberanas
[como aquele
olhar que é só teu].
tudo, sobre
todas as coisas
e quase nada
me assusta
porque o
tempo adormece no milagre
das páginas.
só do que
não sei:
o homem ama
antes de todos os livros.
[terá este
sido escrito, já?]
[texto de 2011 revisitado e reescrito para a VI Antologia de Poetas Lusófonos]
a dualidade do texto, enriquece-o e torna a leitura uma ave alada em palavras para reflexão....
ResponderEliminar:)
voos com palavras: a sopa e o pão por mais que os dentes doam.
Eliminarbeijinho, piedade.
Jorge,
ResponderEliminareste poema é inesquecível para mim, de uma beleza atemporal Jorge, também pelo incipt deste gaúcho de Alegrete que foi para a festa do céu em um 5 de maio...
Recordo-me que li tua primeira versão em novembro de 2011, no Uruguay, em Atlántida, que dista 40 km de Montevideo. Uma praia pacata onde encontrei vaga num hotel muito antigo onde havia wi-fi apenas nas áreas sociais. Devia ser próximo das 2h da madrugada e decidi visitar alguns blogs e comentar para ver se o sono chegava. Acabei por conectar no salão de festas. Lembro-me como se fosse hoje: sentei-me num recamier de veludo cor bordô com o laptop apoiado em mesa de mogno, acima de mim um candelabro de cristal. O salão tinha formato arredondado, com colunas dóricas no entorno, ao fundo uma música indiana que o funcionário havia colocado para mim. Cenário de suspense, eu e Deus sob o céu negro do Uruguay... (bem mereceria um conto ou prosa poética, a julgar por minha memória de elefante :)
No dia seguinte, rumei para Piriápolis, praia onde o Mar del Plata (Rio da Prata), se encontra com o oceano. Águas, aparentemente, calmas como se fossem de um rio, mas sempre que se pisa nelas sente-se o repuxo do mar, e as ondas aparecem sem cerimônia alguma.
“Há coisas que, definitivamente, não se aprendem nos livros, verdade?”
Beijos atemporais!
PS.: Fico feliz com tua participação nessa antologia. :)
PS2.: lembro-me que havia um fragmento..., será que me engano?... vou verificar em papel..., penso que o tenhas tirado, se não te importares, o trago aqui... é divino!
PS3.: Coloquei um 'like' agora aqui no g+1, basta você clicar em cima logado e me adicionar ao Google +, assim receberei espontaneamente tuas atualizações :)
PS.4: Tenho tantas notícias..., mas aguardo as tuas antes, tá bom?
aninha,
Eliminarsão as palavras o primeiro tecido da memória. recordo-me perfeitamente da postagem deste texto ainda no viagens e, curiosamente, eu que (quase) nunca recupero escritos antigos, acabei por ir buscar este por nele haver algo que se mantém presente. quando surgiu a possibilidade de integrar a antologia com de um até cinco textos, imediatamente agarrei em quatro dos dois últimos meses (considerando as limitações de extensão que me foram impostas) e um quinto que, não sabendo ainda de cor, me descrevia como se o tivera escrito hoje mesmo, e aí está este "livros lacunares" revisitado, revisto, encurtado e ajustado a uma nova forma de respirar.
que maravilha a descrição que fazes desse instante em que contactaste com o texto, já lá vão dois anos, no preâmbulo da nossa amizade - ora aí está, há mesmo coisas que não se aprendem nos livros :)
beijos sem tempo - que é o mesmo que dizer com todo o tempo!
p.s. acabo de espreitar o g+ e, confesso, a mensagem que lá aparecia não coincidia com a que dizes aparecer. fiz uns quantos movimentos tendo inclusive ido parar à tua própria página do g+. não sei se resultou - diz-mo entretanto, por favor.
p.s. 2 as palavras que nos aproximam espreitam à boca das saudades.
Jorge,
ResponderEliminarretornando à argentina.
Interessantíssimo perceber as tuas duas versões. Adoro fazer isso, comparar versões, é um acréscimo para mim, e editas muito bem.
Pois, sim, existia o tal fragmento. Deixo-te de "livros lacunares para hesitações, dois naufrágios e toda a cegueira":
"podia saber talvez mais sobre o amor,
essa bebida que entornamos devagar,
gota pós gota,
sobre pálpebras de respiração e suor,
quentes, monossilábicas, quase imperceptíveis
como vendavais no corpo e na vontade do corpo,
quase sempre chuva,
quase sempre debaixo da chuva."
- Jorge Pimenta -
Moço de talento esse Jorge :)
Beijos platinos!
só tu mesmo para me recordares de um tanto de mim :)
Eliminargracias, amiga!
beijos com as palavras que não se escrevem.
Nossa, Jorginho, você parece vários nos sentires e o mesmo no talento embriagante que nos faz querer conhecer toda a sua alma!
ResponderEliminarBeijos,
taninha,
Eliminare quem não é o mundo todo e nenhum?...
beijos sempre com toda a afeição por ti na hora deste reencontro.
os alfabetos que se cumprem
ResponderEliminarna pele atávica do tempo
abraço
florescências e respirações gravadas no tecido intumescente dos dias.
Eliminarabraço!
De todos os livros que fechei pelos dias,
ResponderEliminarNada, ou quase tudo, restou-me na superfície.
Talvez a pele saiba guardar segredos
Há, no entanto, em rota de colisão,
Incontáveis palavras no sangue que,
Após suicídios incontroláveis, se confessam íntimas
De todas as viagens
É que nasceram antes de mim
Não foi escolha minha viver antes dos livros!
Só eu sei o quanto isso foi assustador e ainda persiste,
Mesmo depois de cem mil páginas
Ouço vozes, sempre diante da biblioteca,
E adormeço pensando:
O homem ama antes de todos os livros
E Jorge acende o candeeiro
bj, meu amigo de tantas viagens
palavras em suicídio a sufragar viagens - o fascínio dos livros, do que neles vem e do que sem eles acabamos por saber.
Eliminarafinal, o homem ama antes de todos os livros à luz de palavras, sentires e todas as novas denominações da pulsação com que tu e a tua poesia nos incendeias, poeta imensa!
beijos e ainda um tanto de arrepio de lábio!
Multiplicidade de poeta: universo nas palavras.
ResponderEliminarLindeza!
Beijão, Jorge!
a poesia e o seu maior legado - ser de mil e uma formas.
Eliminarbeijão para ti, marlene!
Muito lindo, Jorginho! Recordo-me de da leitura em seu outro blog. Bela escolha...
ResponderEliminarEssa escrita de que falas é mesmo interminável!
Beijo, querido!
essa escrita interminável que se confunde com a mão de tinta a que damos o nome de vida, verdade, adri?
Eliminarbeijinho!
E o livro de capa de pele que somos, quem realmente lê?
ResponderEliminarBeijos, meu amigo das imagens pulsantes e textos temporais!
que signos e sintaxe se fazem bastante para o sabermos ler?...
Eliminarbeijinho, querida jô!
"o homem ama antes de todos os livros"
ResponderEliminar...antes da voz, antes da pele, antes do instante, antes de todas as rotas racionais, e por fim o abismo, e vertigem...e quem sabe o toque final nas coisas invisíveis que tecem monólogos de fazer doer, e afinal apenas paisagem vazia, branco, frio...
isto não foi escrito, nem será...apenas pesadelo por rasgar...
beijinho, querido amigo!
o homem ama antes de todos os livros... e logo adormece em sonhos descosidos...
Eliminarbeijinho, amiga de além-tempo!
e, tudo o que não é dito, mais verdadeiro, mais sentido...atemporal...
ResponderEliminarBeijinho, querido amigo, profeta da palavra!