fotografia de jorge pimenta
I.
não me
deixes só em cada um dos meus morreres.
II.
o universo e
todas as coisas:
o erro
grosseiro de pensar em vez de sentir.
III.
o inverno nas
minhas próprias vozes:
sofro desse
frio que não pertence
nem à vida
nem à morte.
IV.
esperava a
vertigem das mãos
a
percorrer-nos por dentro
mas
o mar acabou
por desviar-nos o
peito
antes do
rosto adormecer no
silêncio.
conseguirei gritar
para o lado
onde se inclina o vento?
V.
minto para
não saber a verdade:
eis o peso
trágico de ter de dizer.
fotografia de jorge pimenta
Esse é um clamor de quem já sabe de quantas mortes são feitas a vida. Inútil clamor, que a solidão é mãe que embala no colo todas as despedidas. "não me deixes só em cada um dos meus morreres".
ResponderEliminarTudo tão belo e profundo. Mas o morrer sempre me fisga. Fisga-me quem já pôde morrer tantas vezes.
Beijos, poeta!
tantas mortes e ainda mais os renasceres: eis o mandamento sagrado de quem ama, taninha!
Eliminarbeijos!
"o universo e todas as coisas:
ResponderEliminaro erro grosseiro de pensar em vez de sentir."
querido amigo, tocaram-me sobremaneira estas etiquetas em papel de parede, papel de vida, vertigem de emoções...
imagens imensas, tocantes...
Beijinho grande!
p.s. em férias...em busca do mar e dos seus segredos...
mesmo em férias, a palavras humedecem-nos os sentidos, querida amiga.
Eliminarque o mar se faça todo ele epifania nestas férias em tons de azul; beijinho!
Jorge,
ResponderEliminaroutro dia, tendo que obedecer a uma pauta que eu mesma me impus de enviar uma crônica por semana aos jornais, e não tendo um assunto específico para escrever, acabei optando por discorrer sobre o 'nada'. Curiosamente, chego aqui e, apesar de esquisito, vou citar a mim mesma (deve ser coisas da idade ou do colesterol alto :), porque senti um tanto destas palavras que aqui deixo de um parágrafo:
- Sobre o nada -
O nada também pode ser um silêncio, a ausência de palavras, a ausência de carinho, a ausência em si. É quando deixamos de ser plenos porque sentimos falta, e o que sobra não sustenta a existência. As reticências mudas abrem inúmeras interpretações: não existe palavra mais cruel do que a que não é dita. Não existe maior tortura do que um carinho esperado que não chega.
Beijos!
PS.: Por aqui, muuuito trabalho... Envio-te notícias na madrugada.
dois pontos assimétricos, uma sombra e os passos sem medição algures pela superfície (terra, água, solo lunar?), enquanto os lábios se fecham em reticências brandas: há tons claros à superfície do banco onde a existência começa e se refaz alheada a todas as mortes e sortes: é o vazio em autoimplosão .
Eliminarbeijo, aninha!
Jorge, antes que eu me esqueça, e faço questão:
ResponderEliminarBah, fotaços! Em especial essa primeira. Incrível a edição, composição e profundidade conseguidas a partir da pontuação da figura humana no contexto do grafismo, e os tons cintilantes obtidos pelo jogo de luz que sugerem, mais do que mostram, aquilo que mais temo: a altura :)
Perfeita! Parabéns!
Penso que estás mais que pronto a ilustrar meu livro, (se milagres existem), de crônicas, heim? :)
Mais beijos!
se os meus olhares soubessem estar à altura das tuas letras...
Eliminarbeijinho!
A palavra, ao mesmo tempo, servindo de cova e de sublimação aos nossos morreres!
ResponderEliminarBelíssimo!
E que maravilhosa amostra de sensibilidade é a fotografia!!
Beijos, poeta amigo das tantas imagens!!
somos assim como que gatos de duas patas, com tantas vidas e ainda mais morreres...
Eliminarbeijinho, poetamiga!
ResponderEliminarvazio da melodia
o silêncio
retorna à pele
e dela não há resposta
que se retire de duas sílabas
sente na carne
[os dedos a desprender vertigens]
e só pronuncia o que é
.
caminho com o vento, leve
despindo rumos
...
"caminho com o vento, leve
Eliminardespindo rumos"
assim, em palavras mágicas, se faz tão necessário morrer...
que maravilha, dani!
abraço!
Maravilha, principalmente o último. Adorei!
ResponderEliminarBeijo.
beijo, larinha!
Eliminarfisgadas estão as palavras
ResponderEliminarfeito larvas no reboco
este existir como um soco
abraço
engodo neste mar de peixe e tantos anzóis, as palavras...
Eliminarabraço, caro amigo-poeta!
Dos vários morreres para os vários renasceres, enquanto isso acontecer, mergulhemos na vida!
ResponderEliminarAbraço.
é desses pequenos ciclos de voltas (im)perfeitas que nos fazemos, um dia após o outro, uma morte após a outra...
Eliminarabraço, eduarda!
Viva, amigo Jorge!
ResponderEliminarA poesia das imagens e das palavras em simbiose perfeita.
Vários morreres, implicam vários viveres. E isso pode ser bom...
Um forte abraço.
Rui
rui, caro amigo,
Eliminarque maravilha saber-te por aqui! este blogue começou pela palavra, entretanto, outras linguagens foram ganhando fulguração em mim sendo a fotografia uma delas; passei, pois, a procurar combiná-las ambas. se, numa primeira fase, mantive via blogue vivos os contactos com os amigos da palavra, presentemente vão aportando outros que fiz mais recentemente no universo da fotografia. e a conclusão a que chego só pode ser uma: a escrita e a fotografia partilham a mesma matriz genológica: o sentir - e sentindo, vamos sendo, mesmo quando o chão parece desaparecer-nos de debaixo dos pés - inevitavelmente.
abraço!
Fragmentos de um todo atordoado.
ResponderEliminarVocê entende do riscado!