fotografia de eurico portugal
25 de abril
de 1974:
depois do
grito sem sangue
o ar
encheu-se de promessas, cravos e
quase
certezas.
assim abril:
depois do
sonho,
o tempo a
colecionar troféus
que apenas brilham
na sombra
dos homens.
e abril
adormeceu-os:
agora sem
boca
dentes
podres
e mau hálito
habitando
silêncios num espelho,
creme
anti-rugas e um par de mãos
cansadas de massajar
cravos e dores.
abril
tardio:
o dedo magro
imita o vento,
primeiro
sobre a testa e os sulcos vencidos
depois, nas pétalas
do rosto, que foram já poema,
por fim nos
lábios, agora secos
e
abandonados, como as revoluções que se cansam
de esperar.
abril...
sempre:
há uma morte
invisível que nos agarra
ao silêncio
até nada
mais sobrar deste mês perfeito
em queda livre.
fotografia de eurico portugal