Tenho as mãos vazias de ti
neste hálito que ainda
te respira
Ademar Ferreira dos Santos, in Descansando do Futuro
fotografia de jorge pimenta
I. caderno de viagem
capa escura
algumas folhas
arrancadas e
umas tantas rasuras
dentes
brancos pousados na
idade
duas
glicínias
e a
apoplexia da voz,
um gato,
sobretudo um
gato, pardo e sonolento:
onde fica
esse lugar a que apenas chegamos
quando se
faz demasiado tarde?
II. um passo a menos
poema:
mão trémula
taquicardia
suores frios
e
refulgência ocular
[esquecemo-nos
tantas vezes
da vida]
III. variações em torno do amor de um poeta
submeteu-se
a algo
insidiosamente
maior do que
a chuva e o frio
em dislexia
sobre a voz:
céu do peito atado à carne
e ao dizer
língua
entaramelada
e tantos outros coágulos
de sombra...
alguma
vez terá ele estado
tão só?
[e a saliva a
escorrer vagarosamente
pelas frestas do passeio
pelas frestas do passeio
ali
bem dentro do
teu nome].
fotografia de jorge pimenta
como diria adriana calcanhoto, naquela canção brasileira, "eu vejo tudo em quatrados".
ResponderEliminareu e a sua câmera.
a propósito do poema, lembra-se daquele gato daquela viela do porto, quando descíamos em direção ao d'ouro?
no outro dia, tive pesadelos e ele mordeu-me o pé.
deve ser a proximidade da viagem.
está pertinho, jorgíssimo.
abraço grande do
r.
gato, viela, noite e saudade combinam com o porto dos nossos setembros (e novembros), robertílimo.
ResponderEliminarestá pertinho, pertinho; alvoroço-me a cada instante.
abracílimo!
combinação mais que explosiva esta tua trinca de lira!!
ResponderEliminare Morrissey!!!
beijo cheio de encantamento, meu amigo poeta das imagens pulsantes!
p.s:
I
que tarde se faça
a chegada, desde
que não me faltes!
II
poema: vida
súbita depois
do engasgo.
III
soprei na
venta da
letra muda:
habitei-me.
(Joelma B.)
que chegues
Eliminarno engasgo
com que a letra nos habita.
beijos, jô querida!
Jorginho, onde fica esse lugar, menino? Onde fica ele, que alcançamos sempre depois, sempre após, sempre tarde!!!? Seus delírios poéticos são ardentes. Queimam. Às vezes são aquosos. Molham. Mas nunca saio daqui impune! :-)
ResponderEliminarSempre essa doce e louca embriaguez quando te leio...
Beijos,
como diria o assis, taninha: nenhuma escrita nos deixa impunes; acrescentaria eu que tudo nela dispersa e redime.
Eliminarbeijinho!
não se escreve impunemente: eis a cota: o quinhão
ResponderEliminarabraço
se a escrita fora inócua, para que serviria, pois, esse vinho licoroso?
Eliminarabraço!
variações em torno do amor.
ResponderEliminar:)
e como ele - o amor - varia :)
EliminarNuma viagem sem regresso, passo lento e/ou apressado,o poema esboça-se , traça-se, desenha-se , ganha forma ... As palavras ficam nos meandros da memória... a nossa essência ali fica plasmada e ninguém ouse "roubá-la"
ResponderEliminarBeijinho,jorge, querido amigo!
as palavras e os seus/nossos arroubos, querida alcina.
Eliminarbeijos!
Pois, sim, Jorge,
ResponderEliminarbelos poemas teus ao som de (amor)rissey!
Vim comentar minhas impressões e chegaram na forma inusitada de poema que fiz agorinha (sem revisão).
Em agradecimento pela tua Poesia de anos.
Tri-beijos dos Pampas!
- Sem as mãos tuas -
Sem as mãos tuas
no coração de vento
a dedilhar sopros de nada
(silêncio casual em noite de outono)
saliva, suada, sensível, sensata,
a saltitar de língua em boca
e dentes ferozes
fugazes, fogosos, fáceis,
palavras inertes e
certeza, a única,
contigo tudo eu posso sozinha.
- Ana Cecília Romeu -
aninha,
Eliminarhá versos que resumem toda a poesia da vida como este teu "a saltitar de língua em boca/ e dentes ferozes"; versos que podem até florescer algumas vezes mas apenas uma vez plantam sementes e raízes dentro da gente. e como tanto recresce em incandescências e luminosidades.
belíssimos estes versos em oração maior!
beijos meus!