Não, a pintura não está feita para decorar apartamentos. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo.
Pablo Picasso sobre Guernica
fotografia de jorge pimenta
Museo Reina Sofia, Madrid
são elas,
as lâminas descaídas
superlativas
sobre cabeças em lava humana:
logo
a poeira do corpo
se desprende em agitação
sem conhecer vogais ou consoantes,
apenas gritos
e toda a significação
sobre os sorrisos em desintegração
urgente:
a carne desfeita em soluços
e nós
vazios dentro dela
enquanto o silêncio mascara
cada lasca do rosto
e outras tantas confissões
adormecidas:
até quando nos
lembraremos?
este quadro é "o quadro", jorgíssimo.
ResponderEliminarrepito: O QUADRO.
e todo o sangue em preto e branco.
cada lasca do rosto, cada golpe na carne.
sim, cada letra do poema.
é assim.
em preto e branco.
abração,
r.
e o silêncio a percorrer todos aqueles olhares de respiração acelerada... a sala é enorme; o peso da tela faz ranger paredes que suam arquejando as dobradiças. só lá, meu querido amigo, se percebe como todas as palavras são vãs diante daquele sangue a preto e branco como tão bem fazes notar.
Eliminarabracílimo!
Existem momentos eternos que tombam num silêncio esquecido...existem momentos fugazes que no silêncio se perpetuam, em nossos olhares...
ResponderEliminarEsquecer a desintegração, o desespero, a angústia, a busca vã da luz, numa penumbra com estrelas de bréu, é esquecer a Humanidade, é a indiferença perante o que fomos, o que somos , o que podemos ser.
Um poema que inquieta, com uma ilustração que Perpétua o Homem ...para o bem e para o mal...
Beijinho meu,querido amigo!
esquecer hoje para todos os dias poder recordar - são assim os momentos que imortalizam, alcina.
Eliminarbeijinho, querida amiga!
uau!! que título!!
ResponderEliminarhá tantas guerras feitas em silêncio... e o esquecimento, talvez um armistício!
no Guernica... há tanto grito!!
beijos, poeta amigo das imagens pulsantes!
e depois há aquelas guerras sem tréguas e armistício, aquelas que nos adiam ao longo dos corredores da existência, em perenidade falsa; guernica sabe-o e di-lo melhor que qualquer um de nós.
Eliminarbeijinho, querida amiga-poeta com alegorias nas pontas dos dedos!
Tô pra ver uma língua tão afiada....
ResponderEliminarBeijo, poeta precioso!
e queima, cris...
Eliminarbeijos, poeta-cris-tal!
Silêncio! Eu estou te escutando nas linhas e entrelinhas, que não se esmagam nunca.
ResponderEliminarBeijos,
os verdadeiros diálogos, esses, taninha - os que nascem aquém língua e perduram para além da própria boca.
Eliminarbeijos!
quem é o inimigo? o maior ou "imbatível"? o silêncio é, ainda, o sangue mais vivo do corte inesquecível
ResponderEliminarque alma, a sua, meu poetíssimo!
sigo tentando ser aprendiz
Bj, Jorgito, amigo queridaço
e assim permanecemos: exangues, nesse festim de licor vermelho-vivo borbulhante, em efervescência humana. brindemos com silêncio, pois.
Eliminarbeijos, iríssima dos versos com a espessura do corpo-vida!
Querido Jorge,
ResponderEliminarquando o significante consegue praticamente superar o significado. Eis o signo pleno, o qual nem Lacan previu :)
Meu contato com a Guernica foi em 2002, num Reina Sofia milagrosamente pouco frequentado, fiquei eu e mais algumas pessoas ali, sem palavras, pois cem palavras... O tanto que lia e sonhava em ver essa tela... Na época, permitiam fotografias (sem flashs), tenho um para delas, terríveis, mas sinceras :)
Mas a obra que levou-me aos prantos, literalmente, foi a "El 3 de mayo de 1808", de Goya, na época, no Museo del Prado, creio que ainda por lá está. Hipnose em lágrimas...
Na arte brasileira também temos nossas ‘Guernicas’, talvez a mais expressiva seja o quadro “Criança morta” do genial pintor Cândido Portinari, tela essa de estilo expressionista e que faz parte da sua série “retirantes”. E dói no coração... Uma questão social de todo o sempre que é imposta a população do nordeste brasileiro, que, devido à seca, emigra do sertão, região mais seca, para outras em busca de sobrevivência. E eis o descaso dos governantes, entre outras mazelas. Uma entre tantas Guernicas do Brasil.
Quando o sentir tem voz e dispensa as palavras, eis a pintura como arte e toda sua transgressão. Podem jogar spray, danificar, roubar, violar... a obra já se fez obra. A obra não está, ela é! Mais do que ‘arma’, eu diria, é a própria vida em tessitura plena.
Beijos!
Fiquei emocionada...
aninha,
Eliminarcomo as coisas mudaram depois de 2002: guernica tem o rosto de uma criança cansada, assustada até, mas tudo quanto a envolve é o aparato de uma super-estrela que em nada condiz com a sua essência mais íntima. em 2007, quando lhe apertei as mãos, um ror de gente agitava-se diante de si, mas a sensação de estar num pentágono de máxima segurança estava ainda longe de acontecer.
no prado, goya e o seu 3 de maio, mas inesquecíveis, também, patinir, den bosch, el greco, angelico e tantos outros.
uma tela que conserva o poder do humanismo e a história tantas vezes trágica da humanidade: antonio gisbert e fuzilamento de torrijos e seus companheiros nas praias de málaga - aqueles olhares serenos diante do pelotão da morte perseguem-nos para lá da galeria...
beijos!
lembraremos. até não mais lembrar.
ResponderEliminar:)