I. diálogo
para tempo e coágulo
o homem que
falava sozinho
procura o
lado cego
da memória
- para quê - pergunta o vento?
- é nele que singram
os braços sujos
da eternidade - responde-lhe
e todos o
escutaram
fotografia de eurico portugal
II. canto silencioso para feitiço e infinitos
ela,
mariposa a
rugir madrugadas,
boca ferida
em entardeceres
enquanto a
transparência das asas
morre por
dentro e regressa
vazia
à púrpura
simetria de pétalas
e versos
que não
ousaste morder.
fotografia de eurico portugal
III. trópicos do corpo
chamo-te além de mim
em silêncio:
as palavras perdem a voz
e apagam a ilusão
de uma resposta
traço a compasso tantos
mundos
que quero dizer-te:
mundos que amam
e outros que fingem
morrer
em cada candeia do nosso
asfalto.
fotografia de eurico portugal
IV. menoridade
quem ousa
saber mais verdades do que a tua,
deus-infante?
fotografia de eurico portugal
. diálogo para tempo e coágulo: que coisa mais linda, Eurico! O lado cego da memória, essa é uma imagem fatástica!
ResponderEliminarAmo ler-te, acho que você sabe.
Beijos,
há um lado cego em tudo quanto nos define, taninha, um lado que só a espaços sabemos escutar.
ResponderEliminarum beijo desde este meu lado que vê!
eu fiquei pensando em Quadros de uma Exposição, a peça (suíte)de Mussorgsky, ela tocou inteira na minha cabeça
ResponderEliminarabraço
há composições que nos habitam, verdade?
Eliminarabraço, poeta!
Ainda peço uma fotografia para fazer uma leitura! Deixa? Ou melhor, escolhe uma pra mim?
ResponderEliminarAdoro a viagem nas tuas perspectivas!!
beijo!
jô,
Eliminarseria, para mim, um privilégio ter uma leitura tua de um olhar meu. a que mais te aprouver.
beijinho!
ufa! são lindas estas fotografias! caramba! não sei se tens noção!
ResponderEliminaras palavras...feitiços a tocar emoções.
beijinho, doce amigo!
a tua presença, querida andy, sempre mais mágica que quaisquer palavras que a possam justificar: bom este nosso repetido encontro de dizeres e sentires que vem já dos tempos de circum-viagens, verdade? :)
Eliminarbeijinho!
Além de mestre nas palavras, vejo que cada vez mais apuras a arte da fotografia. Ambas poesia e da melhor!
ResponderEliminarBeijinho
obrigado, sandra! escrever com as retinas tem sido um desafio que começa a transformar-se em paixão, também.
Eliminarbeijinho!
Eurico querido,
ResponderEliminarentre latitudes, longitudes, trópicos, meridianos, afonias, sopros, fotografias que não falam, mas dizem..., recordei-me de uma frase de Gabriel García Márquez, que traduz um pouco minhas impressões que foram muitas para um único comentário:
"Recordar es fácil para el que tiene memoria. Olvidar es difícil para el que tiene corazón."
Beijos, senhor fotógrafo!
aninha,
Eliminarrecordarei para sempre esta extraordinária síntese do homem, de garcía márquez, que aqui me deixas: porque, se vier a perder a memória que seja nas galerias do coração.
um beijinho para tantas presenças!
Ah! Antes que eu me esqueça Eurico, sobre fotografias: postei agora uma crônica por lá, em que queria uma fotografia num tom intimista, noir-clássico. Pensei em executá-la à luz de velas, e não encontrei velas em casa... :) Então arrisquei uma lanterna, para que eu pudesse ter um efeito de foco continuo, sem o uso do flash, e a fiz num quarto totalmente escuro, e por lá está postada. Foi apenas uma brincadeira, mas consegui um ponto de saturação que queria e uma sombra nas pernas da 'modelo' que por acaso é esta que te fala:) pois não houve mais ninguém a se arriscar sair numa foto mal tirada... :(
ResponderEliminarDigo isso, pois te sugiro que é um belo exercício de teste de luz o uso da iluminação a velas, lanternas, enfim, tudo que a criatividade alcançar. Nunca experimentaste isso? Pense com carinho, é super tri!
Mais beijos!
adoro fotografar em ambientes interiores, pouco iluminados, a desafiar a técnica e o olhar. enquadrar a abertura, controlar o iso e perceber em que medida as projeções avivam ou aniquilam o produto final seduz-me. faço-o, por norma, com luz natural, mas tenho visto já coisas maravilhosas com velas onde aqueles pequenos rastos que alongam a imagem quase para fora do registo resultam em efeitos visualmente muito convincentes. a propósito, no post que hoje publico aqui, há duas experiências com pouquíssima luz; gostei do conjunto.
Eliminarentretanto, corro para o humor em conto para conferir o teu novo post - à luz das velas :)
beijinhos sem negativo!