Afastámo-nos para nos vermos
José Luís Peixoto, Cemitério
de Pianos
fotografia de jorge pimenta
um rumor
rompe a liberdade
do rosto:
a palavra mínima
injeta veneno no coração
e a carne,
essa,
mãos soltas
e algibeiras vazias,
reflui para
dentro da raiz.
regressa às
esquinas,
lábio húmido de álcool,
um cigarro
a povoar-lhe memórias e
pensamentos
e logo ali
ao lado
quente e
azul, uma chávena de
saudade
estende-se para além do
perímetro da
solidão.
já não sabe
o que é inspiração mas ainda acredita
no tempo
que deixou
de temer como aos poros
do seu
vestido,
porque aprendeu:
é preciso
ser mais do que
verso de
urgências,
grito ou
infinito,
hoje é preciso
ser
catre e
leito da carne raspada
onde
aconchegar silêncios e cercanias.
Ah, esses versos! Os versos finais são assombrosamente maravilhosos, Jorginho. Que bom que fotografas, porque o resultado é uma obra de arte completa e perfeita que leva a sua assinatura. Ave, poesia!
ResponderEliminarBeijos,
cada vez mais as imagens mentais ganham, em mim, contornos físicos definidos, aproximando o dizer do ver - afinal, os olhos podem dizer tão mais do que a boca...
Eliminarbeijinho, amiga-poeta-poema!
"hoje é preciso ser..."
ResponderEliminarUm privilégio chegar aqui.
Bom fim de semana.
Abraço
Sónia
há tantas existências de papel onde a palavra ilude deidades: "hoje é preciso ser" - há momentos assim, em que é preciso rasgar a carne a canivete para se poder voltar a escutar a voz no reverso do grito.
Eliminarbeijos e poesia, feliz por este encontro, sónia!
Jorge,
ResponderEliminarvenho como motorista argentina, sim, em 'versos de urgência', o que não significa desatenção...
...a propósito, e o título?... Coisas da idade, meu caro?...:)
Não, não coloques neste, afinal, como um dia versou o poeta Mário Doldán:
"el silencio es un grito de mujer"
(mas que também pode ser um grito de homem, verdade? :)
Recordei-me que na adolescência, enquanto minhas amigas queriam usar camisetas do Duran Duran; Menudo (sim! Menudo); Madonna e afins... adquiri uma em que havia desenho de paisagem muito parecida a esta tua fotografia e com os dizeres:
"somente o profundo é claro e sereno".
O que me marcou, apesar da redundância:
profundamente.
Nesta época, jamais imaginaria que haveria algo parecido à internet, blogs... e muito menos que esses dizeres, aqueles que um dia encantaram uma menina-moça gaúcha tão cheia de trilhas a percorrer, viriam à tona novamente.
E assim um dia sentenciou o grande Juan Gelman (que por lá postei homenagem, e que sinceramente, me doeu profundamente, e de novo saliento o 'profundamente' sua passagem):
¡Digo que el hombre debe serlo!
(Epitafio - Juan Gelman)
...
Beijos algures entre o mar e a serenidade!
PS.: Estou às pressas indo à praia neste momento, antes de vir aqui tentei te passar um e-mail, como havia te dito que o faria, parece que o tal deixou-me na mão novamente, não só não consegui enviá-lo como não foi salvo nos rascunhos... Estarei sem internet no fim de semana. Deixo-te o outro e-mail que está sem problemas, assim aguardo palavras tuas, tá bom?
PS.2: Um presentinho para ti, sei que vais gostar, se não for pelos ouvidos, certamente será pelos olhos :) Argentina de La Plata, cidade a propósito encantadora e próxima a Bsas. a conhecer, meu amigo!
http://www.youtube.com/watch?v=UjprYvkOiQQ
de novo salvo pela tua atenção e perspicácia, aninha - o título. ai, coisas da idade, mesmo. já lá está, sem neon ou luzes intermitentes, apenas palavras a humedecerem silêncios e cercanias :)
Eliminarainda a respeito do título: o poema nasceu antes do título, como habitualmente sucede comigo quando nas lides da escrita, mas antes da postagem, já o havia definido. curiosamente, e depois da tua nota, ocorreu-me "o silêncio é um grito de mulher"; soou-me bem e senti que deslizava pelo corpo do poema como vestido feito à medida, contudo, para não instabilizar aquele conceito único que nasceu no instante da própria produção, acabei por socorrer-me do título que já lá morava,na invisibilidade desse momento já anunciado.
tinha lido já no teu letras acerca da morte de juan gelman, que desconhecia, mas que, de novo, e pela tua mão, se faz presente; e de que maneira!? afinal, "el hombre debe serlo" é muito mais do que uma frase, é uma expressão dentro do próprio ser.
despeço-me desejando-te um fim de semana cheio de praia, luz e sol, descanso e brincadeiras com luíse e família; que inveja, sabendo que aqui o melhor que se consegue é banhos... de chuva, granizo e frio. ainda assim, amanhã, uma maratona fotográfica cá em braga, com mais de 30 "fotógrafos" que irão invadir literalmente a cidade. porque estou ligado à organização, sinto cada minuto de espera como frequência e aceleração do próprio coração :)
beijinho em tons de orvalho!
p.s. gostei muito do presente. do que ouvi. do que vi :)
Por vezes é preciso o silêncio e aceitar a dor, quase sempre o início do fim do medo.
ResponderEliminarÉ sempre muito bom ler-te Jorge.
abraço
cvb
o tempo para tão mais quando dentro do silêncio, cecília...
Eliminarbeijinho, regozijando pelo reencontro!
Composição de alto nível!
ResponderEliminarA epígrafe nos aproxima da fotografia que nos leva à poesia.
Beijo, poeta primoroso e precioso*
(Sou tua fã cristalina)
a epígrafe, a fotografia, as palavras - a prova de que um mesmo sentido veste tantas roupagens, numa existência camaleónica, como tanto do que nos percorre, de alto a baixo, na invisibilidade do que sabemos intangível, imperscrutável, inefável.
Eliminaracaso o que muda fará de nós necessariamente mentira? ...
beijo, voz de cristal inimitável! um privilégio saber-te por cá.
tem gente que faz um unguento de palavras que, se não cura tudo, preenche um bocado de vazio!
ResponderEliminarmeu amigo poeta das imagens pulsantes... um carinho para a semana toda!!
por mais xaropes, drogas, mezinhas ou aloés, poderá o tempo passar sem se existir?
Eliminarbeijo, amiga-poeta de minhas transfigurações!
Nunca li um poema que fosse eu – e quando digo nunca é nunca mesmo ou toda minha eternidade. Extraordinária é a experiência poética. Veja meus poemas, não sou uma poeta confessional, porém, toda minha poesia carrega fortes fragmentos da minha própria carne, algumas gotas de sangue e suor, minha raiz fêmea, um espírito tosco a perscrutar o homem e seu universo, contudo há sempre uma farsa nos lábios que me despistam. Esse seu poema me desconcertou de forma absurda, não por me vestir ajustadamente, mas porque me desnudou por inteira. Rasgou-me a carcaça de mil almas silenciosas e todas gritaram.
ResponderEliminarUm beijo, poetíssimo de todos os tempos do ser
iríssima,
Eliminara poesia é tinta torcida sobre a existência e só ela sabe como, após cada morte, nos reescrevemos com o que sobejar das palavras.
beijo, poeta-mulher a perscrutar tantos (de meus) universos!
Jorge, deixei a musica tocar enquanto os olhos se perderam na paisagem, mais do que paisagem, fi-la pele e sensações. o que eu dava por um segundo nesse contorno de céu e terra.
ResponderEliminar"...é preciso ser mais do que
verso de urgências,
grito ou infinito,
hoje é preciso ser
catre e leito da carne raspada
onde aconchegar silêncios e cercanias."
o tanto que aprendo, o outro que grito e outro tanto que deveria calar...
beijos, querido amigo!
"o tanto que aprendo, o outro que grito e outro tanto que deveria calar..."
Eliminaro tanto que somos por entre as intermitências de tudo o que em nós se faz breve e perecível...
beijinho, querida amiga de além-poema!
Olá que bom te ver por aqui gostei mas é
ResponderEliminarbem profundo, triste, mas valeu cada plavras escrita
A imagem é linda bjussss
Bom final de semana!
Abraços de sempre
└──●► *Rita!!
olá, rita,
Eliminaragradeço a presença e a simpatia das palavras.
um beijo!
Quando se deixa de temer o tempo passa-se a desejar algo mais palpável, ciente da efemeridade da satisfação das urgências. Sempre me encanto ao ler o que escreve. Bjs.
ResponderEliminarnão temer o tempo é aprender a conhecer-se a si mesmo.
Eliminarbeijinho, marilene, grato pelas palavras-carinho!
Liberdade é o que toda a gente quer,meu querido amigo!! Desejo-te uma semana muito linda e perfeita!! Tudo de bom para ti e que o mês de janeiro te traga imensas alegrias!! Muitos beijinhos,fica com deus e até breve!! http://musiquinhasdajoaninha.blogspot.pt
ResponderEliminargrato pela visita e pelas palavras, joaninha.
Eliminarum beijo!
Aprendo com o Tempo que o Tempo me transforma ... me mina, destrói para me construir qual fénix das cinzas...
ResponderEliminarAprendo com o Tempo que a saudade não se afoga com o Tempo... Submerge e sufoca...
Aprendi que o Tempo, me liberta com correntes indestrutíveis...
Um beijo atemporal, querido amigo!
o tempo, esse livro de aprendizagens... e respetivos esquecimentos.
Eliminarbeijinho, amiga-fotógrafa de mil e um afetos e saudades!
onde aconchegar o tempo
ResponderEliminarabraçar a inércia que passa
abraço
sabemos sempre tão menos verdades do que a nossa...
Eliminarabraço, assis!
teus silêncios...
ResponderEliminara canção do tempo..
beijos querido Poeta