porque só à primeira
metade do poema assistia o mistério da respiração
Herberto Helder, in
Servidões
I. um poema e
alguns suspiros em voz pesada para
nudez masculina
é o poema,
um par de
linhas apenas
para a
página escavada
ao ritmo das
mãos
é o poema,
masculino,
severo, atento
às sombras e
aos outonos
adormecidos sob a pele
é o poema,
a massa assimétrica de formas,
rosto feminino
a sorrir linhas de algodão
enquanto o corpo espreita
em tons de
açucena e mariposa
o contorno
da boca com névoa nos lábios;
e nos dentes: a pedra que
esmagou
dedos,
letras e todo o desejo
de escrever
é o poema,
e tudo o que o alimenta:
ciclo de sangue
a escorrer pelo
tubo da esferográfica
que se
devora a si mesmo,
fundo,
impossível, quase lunático
como cada
linha do rosto escavada
pela memória
da utopia
mais ainda da distopia
nem eu sei o
que é...
poema ou linha de morte
sobre
pulsos magros que ligam
o grito ao
silêncio:
poema:
o
milagre do homem à espera
do homem.
fotografia de eurico portugal
II. traço sobreposto para extinção do corpo e do tempo
a imagem
corre a meu lado:
um ponto
anónimo
veia
indómita
apenas
traço.
atiro a
pergunta ao silêncio
e o dardo
trespassa todo o
sangue
em sorriso
brando
olhar em
equilíbrio suspenso
perpendicular
ao movimento do pêndulo que
tudo acende
tudo luz e
explode
em sangue de
gozo fino
sobre a
artéria da eternidade.
a imagem
corre a meu lado:
e eu que já
não tenho corpo
para ganhar
o tempo.
fotografia de eurico portugal
o poema submetendo-se ao incabível!!
ResponderEliminarbeijo, meu amigo poeta das imagens pulsantes!
e mesmo sem forma, sem peso, ou matéria, o poema é na infinita certeza do dizer.
Eliminarbeijinho, amiga-poeta da mais fina vertigem!
é ciclo de sangue a escorrer pelo
ResponderEliminartubo da esferográfica
que se devora a si mesmo
Amado poeta, êxtase sempre com as imagens poéticas que me impressionam sempre. Tenho desejado livros. Um livro de poemas teu é um sonho que guardo com esperança.
Beijos, querido.
no dia em que tal se fizer possível, juntamos todos os amigos da/de palavra e celebramos, taninha: em braga, em terras de vera cruz ou num qualquer lugar que só nós sabemos habitar.
Eliminara propósito, nosso beto (robertílimo, numa forma muito pessoal de o tratar) vai publicar o seu, em parceria, em setembro cá na minha braga; seria um excelente pretexto para uma reunião além-mar, verdade? :)
beijos!
"...poema ou linha de morte
ResponderEliminarsobre pulsos magros que ligam
o grito ao silêncio:"
amigo, encontro na tua escrita sempre um porto de abrigo para o que sinto e para o que nem sempre consigo explicar...
sigur rós e as tuas palavras, pura emoção à flor da pele.
beijinho grande!
p.s. tanto que procuro servidões de herberto helder, mas já perdi a esperança, e aqui encontrei um sopro desse livro... :-)
a palavra a desafiar o silêncio por ela afora.
Eliminarbeijinho, querida amiga!
p.s. arranjei servidões na primeira semana da sua publicação; são assim os livros do herberto helder, edições únicas que acabam por ser duplamente raridades: pela excelência da poesia, por um lado, e pelo número reduzido de exemplares nas nossas mãos, por outro.
dois poemas para nos gastarmos em arroubos, que a alma soluça e a vida turva
ResponderEliminarabraço
a poesia em perícia subcutânea, atenta a tudo o que define além-palavras.
Eliminarabraço, caro amigo-poeta!
I.
ResponderEliminarpoema,
grito surdo que asfixia...
que se solta em ferozes gemidos,
dor e prazer...viver ...morrer, renascer...
perpetuo silêncio em desesperado momento!
poema,
palavra audaz, transcende o Infinito,
arrefece lava ardente, do Espirito,
regresso ao mundo do mutismo e paz...
II.
" já não tenho corpo
para ganhar
o tempo."
tudo olvidado, num obscuro esquecimento,
resta a palavra para eternizar...
Beijinho, querido amigo-poeta!
I.
Eliminarpoema: o milagre do homem a preceder uns quantos aconteceres.
II.
de novo a palavra:
"escrevo rescrevo
e enfim reluzo e desmorro"
herberto helder (mais um vez).
beijinho, querida amiga-fotógrafa-poeta!
Jorgito, meu amigo doce e amado,
ResponderEliminarPenso que cada homem traz em si um livro infinito de poemas
No meu cotidiano, ao tocar cada olhar, cada frase ou palavra e cada mundo dessa diversidade humana, percebo os poemas ganhando vida indestrutível e são neles que minha alma habita
Habito em cada palavra sua e meus poemas se agitam
Bj, poeta imenso
ira,
Eliminarhoje despi a máscara: eurico morre acidentalmente na beira da estrada, pois nenhum tempo ou memória pode refazer o que se fez incompleto. aliás, há em "cada homem [...] um livro infinito de poemas", uns mais completos, outros mais luminosos, outros ainda mais ou menos ajustados à espessura da pele; para quê fingir pensá-lo e escrevê-lo se há pedaços de nós em cada aranha que se nos desprende da teia do poema? e o coração pulsando na infinita mentira a que chamámos memória...
beijo, querida amiga e obrigado por esta pequena epifania!
Meu querido Jorge!
ResponderEliminarJorge, Jorge, Jorge...
Nem acredito... eu já estava quase a pedir divórcio ao Eurico Portugal (brincadeirinha).
E a coincidência:
neste domingo, finalmente, consegui registar a troca do nome do meu blog de Humoremconto para Letras de Ana Cecília Romeu (já havia trocado o banner, mas algo nas configurações me impedia de fazer a mudança no nome para efeitos de pesquisa Google, etc.)
Na certeza de que, mais que Euricos e humores em conto, somos todo o Universo. Podemos segmentar o Universo, mas ainda assim ele é um tudo de nós. Todos-eu que temos. Eis a Eternidade.
Li com atenção de sempre, mas não vou necessariamente comentar teus poemas, algo nas minhas configurações pessoais não está conectando o cérebro à digitação, e bem sabes o porquê...
Deixo-te um grande beijo e um presente,
pois, sim, trouxe um presente para ti do Uruguay, oh, não... não é dulce de leche :( mas é tão bom quanto.
Entregarei pessoalmente! "Verdad?"
Mais um abraço dos Pampas, tchê Jorge!
PS.: Enviei notícias.
aninha,
Eliminareurico pediu-me férias e como as do jorge estão a tardar, resolvi ocupar o seu lugar entretanto :) afinal, ele e eu somos poeiras cósmicas de um mesmo universo, como bem fizeste notar.
o nome do blogue mantém-se; o autor é jorge embora não consiga desativar eurico, porque este espaço está associado a um endereço eletrónico criado por ele mesmo. não sei se haverá algum movimento complementar a fazer ou se inevitavelmente terei de manter o eurico por ali associado à conta. seja de uma ou de outra maneira, jorge passará a ser o nome que dá a cara.
um presentinho diretamente do uruguay? ui, e eu que adoro surpresas :); que me chegue pessoalmente, claro :)
beijinho no aguardo!
"ouvia a cada nó de sílaba
ResponderEliminarum silêncio de morte" - h. helder
:)
p.s: coincidência ou sim - descobri um livro dele [H. helder] semana passada. e aí, ficamos eu e minha barriga: lendo poesia ...:)
herberto helder é leitura de um par de olhos que se diz meu desde há muito tempo... ele, daquelas aves raras que redimensionam a palavra e todos os seus/céus sentidos.
Eliminarbeijo, dani!