Hoje tenho medo de ter sido
Fernando Pessoa, in O Marinheiro
I. dúvidas para existências e tantos aconteceres
arrisco o
olhar
tento o amor
e atiro-me
ao movimento
como o
cordão à volta
do pescoço
a remexer
sangue e
espinhos
com que se
aprende a
vida
e se crê na
palavra
indomada.
já tentei
tantas formas de
envolver o
teu corpo na língua
de aromas
à velocidade
da noite
que logo me
sei iminente
para,
no instante
seguinte,
tudo
esquecer
fotografia de eurico portugal
II. janelas de além-corpo
não tenho
muito mais tempo para saber
morrer,
os capítulos
maiores da minha vida
esqueci-os
já
é o momento
de fechar a
cortina do
corpo
o minúsculo
poro escuro
de profundidade
indefinida,
quase
invisível
como os dias
cegos
a escorrer
pelas retinas
numa hipnose
de janelas e nuvens.
há ainda
quem acredite em fugas
quando os
dentes apodrecem e
as bocas
permanecem indiferentemente
sujas?
fotografia de eurico portugal
dois poemas que me tomam de assalto, me atravessam com suas quinas e me apontam a existência como um louco farol
ResponderEliminarabraço
há palavras que gelam o sangue e atiçam o farol louco que incendeia - as tuas.
Eliminarabraço, poetamigo!
Eurico querido,
ResponderEliminarprimeiro sobre o incipt:
o que foi será, pois tudo no verbo 'ser' é infinito e conjugado em qualquer tempo. O medo? Apenas ingrediente humano.
I.
Pudera ter mil vidas,
e no final delas
encontrar apenas uma.
II.
"Recordar es fácil para el que tiene memoria. Olvidar es difícil para el que tiene corazón"
- Gabriel García Márquez -
...
Preparando as malas a camino de La Paloma. Espero e muito que um dias sintas estes Pampas.
Beijos e esperanças de mil fotos nestes cenários!
PS.: Saudades imensas da minha Maggie-flor, muitas e muitas.
Pois estamos já combinando alguns pulinhos no hotel, imagines de quais pulinhos me refiro... :)
Convido com certa antecedência o papai-adolescente a participar de nossa festa teen, aceitas? E também registrar o momento. Garanto-te que nunca mais o Olhares será o mesmo! :)
PS2.: A contraluz da primeira fotografia está tri-boa.
Um abraço do tamanho dos Pampas em tua família!
aninha gaúcha com sotaque de um monte(que)-vi-eu:
EliminarI. para quê mil vidas, se até as estações do ano são quatro e, especialmente, as do corpo uma só? ela, a tal vida única/una, está lá; nem sempre a sabemos encontrar...
II. "Nenhuma das várias eternidades que planearam os homens - a do nominalismo, a de Ireneu, a de Platão - é uma agregação mecânica do passado, do presente e do futuro. É uma coisa mais simples e mais mágica: é a simultaneidade desses tempos."
Jorge Luis Borges
um beijo em ti para essa viagem que é muito mais do que deambulação turística pela geografia! e mil e uma fotos também, para além de pequenas surpresas e inesperados para as próximas rubricas do humor em conto.
enquanto não regressas, treino salto negativo para estar à altura da teen party para que fui convidado sem ter de passar embaraços :) o que não será nada fácil, com a energia de luli e maggie :)
beijos muitos!
ResponderEliminarArrebatadores poemas, mas não posso deixar de mencionar a expressão "palavras indomadas",
porque é assim que as amo, porque é assim que você consegue fazê-las visíveis, porque é assim que você se torna, aos meus olhos, um poeta único, embriagado e belo!
Beijos, querido!
taninha,
Eliminarsó as palavras indomadas anunciam intervalos de diferentes cores num cenário tantas vezes monocromático e repetitivo...
um beijinho agradecendo sempre palavras tão gentis que ajudam a dar sentido a cada deambulação verbal!
será que conheço o viulto à porta?
ResponderEliminaré sempre mais claro lá for a, da mesma forma que é mais verde a relva do vizinho...
euriquíssimo, morrer dá trabalho.
é o que me disseram, nos dias que passei no inferno.
vai um esteva???
abração,
r.
pois, eu "esteva" agorinha mesmo a pensar nisso, querido amigo. foi assim o nosso primeiro contacto olhos nos olhos: numa mesa de restaurante defronte da livraria "gato vadio", no meio de gente transmontana com sotaque do rio, a celebrar encontros com esteva. só depois apareceu o porto velho, os diferentes aromas, o feitiço do palato e a inefável d. helena - é assim, na singeleza do que a memória jamais deixa adormecer que se escreve o prefácio da saudade.
Eliminaré claro que reconheces o vulto à porta, na fotografia: a mais fotogénica e castigada modelo fotográfica do aprendiz-de-fotógrafo que aqui digita estas linhas. :)
sobre luz e sombra: não discuto que lá fora seja mais claro que cá dentro, mas garanto-te que, se avistada desde a penumbra, a luz tem mais brilho do que quando o foco de perceção é a própria claridade.
morrer dá trabalho. por isso não se morre, vai-se morrendo, o que não está mal :)
um abraço e até breve!
p.s. hoje, se almoçares comigo, não será esteva, mas um branco do douro, bem frio, de nome planalto. nome a reter.
I.
ResponderEliminarA palavra como o amor, indomável,
viagem apocalítica por mundos insondáveis,
desejados e temidos...
Adrenalina a latejar de forma selvática,
culminando num (in)desejado Esquecimento...
II.
Não, não há fugas;
Ser - união de dois polos que se completam, se alimentam de Amor/Ódio ...
E o ciclo perpetua-se : nascer/viver/morrer...
Beijinho, Eurico!
querida amiga,
EliminarI.
a palavra e-ternamente indomáda sobra um corpo sem sintaxe mas na parapeito da vertigem e do esquecimento - curioso o sublinhado do termo em maiúscula.
II.
a fuga que se faz no interior do próprio quarto - que importa mudar do lado de fora se lá dentro tudo permanece igual?...
obrigado pelas leituras de além-escrita, alcina. beijinho meu!
indomáda = indomada (tinha escrito "indomável" antes; apaguei e alterei, mas não me apercebi deste rastilho suprassegmental :))
Eliminarsobra = sobre (parece que as tuas palavras me afetaram a visão :))
na = no (irra, nem a concordância nominal acontece...)
aqui vai tudo devidamente reescrito:
querida amiga,
I.
a palavra e-ternamente indomada sobre um corpo sem sintaxe mas no parapeito da vertigem e do esquecimento - curioso o sublinhado do termo em maiúscula.
II.
a fuga que se faz no interior do próprio quarto - que importa mudar do lado de fora se lá dentro tudo permanece igual?...
obrigado pelas leituras de além-escrita, alcina. beijinho meu!
Este final de ano foi de loucos, como há muito não tinha tido. Roubou-me tempo, lucidez, motivação, energia. Volto aos poucos para ler os amigos e aprender com os mestres.
ResponderEliminarBeijinho
como te entendo, querida amiga! as minhas férias ainda só as vejo por canudo :(
Eliminarum beijinho desejando-te o descanso tão ansiado e, por certo, merecido, com muitas e boas leituras e escrita!
nas retinas: o balanço do mar.
ResponderEliminar:)
beijos
p.s: tem um sorriso atravessando o repouso do corpo.
e o corpo a vogar em ondas de sangue [es]corrido,
Eliminarde cá para lá,
ao ritmo desse sorriso impossível
que atravessa
o corpo.
beijos, dani!
I
ResponderEliminarpenso que os esquecimentos
ocultam-se nas memórias
mais insidiosas!
II
Será que as fugas nos procuram
porque enxergam na voz uma porta?
beijos, meu amigo poeta das imagens pulsantes!
I. toda a escrita é esquecimento sendo, no limite, a própria memória.
EliminarII. fugas que nos (per)seguem nos caminhos e nas distâncias.
beijo, jô-poeta de tantas imagens e delírios acendendo carrosséis sobre o movimento!
se não existi até esse momento, agora, saindo da placenta dessas palavras, ganho vida e vida indomada, que é a que mais quero.
ResponderEliminarbj enorme, poeta das minhas viagens
a existência pré-existe-nos, querida ira!
Eliminarbeijos e viagens, minha amiga-poeta de tantas romagens!