pernoitas em mim
e se por acaso te toco a memória... amas
ou finges morrer.
Al Berto, O Medo
fotografia de eurico portugal
desço
por dentro e
a prumo a cada
incêndio do
sangue,
do próprio
deus,
a embebedar o
vento no rosto
enquanto
fugimos daquele
verão:
o tempo das
certezas sem interrogação
a arder na
claridade como
ondas
invisíveis,
o querer
altivo de figurações
e poemas
completos:
foi o estio
dos homens
grito e
silêncio na generosidade dos corpos
por não poderes
fugir do que não alcanças,
verão sem
rosto
a dissolver
frutos vermelhos dentro de ti
lentamente e
sem embaraço
seguro de
que as asas do voo cicatrizariam
feridas e tempo:
eu era o mistério
a habitar-te as mãos,
eu, da cor
dos teus olhos,
da terra
húmida e do frescor que não se esquece,
eu tinha fé
no tempo nas imagens e nos símbolos;
tu, apenas
desejavas rosas
mas temias o
vento que nada faz mexer:
o verão passou
e a boca,
sentada no peito moribundo,
mordeu o
silêncio branco do ar
atirado ao
chão,
nenhum de nós o ousou respirar
e tu morreste
e eu morri:
regressámos
aonde nunca estivemos
acreditando
ter vencido o tempo das palavras
sobretudo o
tempo sem palavras:
hoje,
é julho,
o mercúrio aquece
a pele
e a vida
inteira é mais longa do que
as sombras
de abrigo:
ao
regressarmos à gaveta do tempo
teremos
esquecido a rota dos pássaros
e a leve
alegria dos lábios
lentamente
como quem
procura o outro no espelho
mas somente se
encontra a si:
hoje,
é julho
e continuamos
à espera da imagem do verão
e do reflexo
de cada um dos seus incêndios.
Ontem foi julho,
ResponderEliminaro tempo passou, a recordação ficou...
a certeza do vivido e de tudo o que não se viveu...eterniza-se numa espera sem retorno,
porque , hoje é julho...
Beijinho meu, querido amigo!
são um tanto assim as inevitáveis eternidades do ter sido.
Eliminarbeijinho, querida amiga!
imagens nos impregnam as retinas, como o sol a desenhar a pele, para o tanto que queima há o tanto que já fomos
ResponderEliminargrande abraço
arderes e ardidos - a-final ar-dores.
Eliminarabraço, poeta!
o calor que arde no peito... ainda assim, acredito, há voos que permanecem, em nós e por nós, e dessa miragem, somos incêndios, doces memórias, praias solitárias, frutos vermelhos num sorriso eterno..., e assim vive o homem.
ResponderEliminarbeijinho enorme, querido amigo!
nem todos os papéis cabem na gaveta mas há aqueles que se fazem eternidade a pingar pelos dedos.
Eliminarbeijinho, andy!
ResponderEliminarEste te ler, poeta querido, me abre rosas de fogo na pele. Há incêndio nos teus versos. Palavras cheias de volúpia. Eu preciso dessa ardência e ardor.
Beijos,
e tantos são os bilhetes usados, amarfanhados e lançados ao chão após a viagem que ainda espreitam por detrás dessas rosas de fogo a atiçar a sintaxe da pele...
Eliminarbeijos, amiga-poeta de delicadíssima voz!
querido eurico,
ResponderEliminarolho para o espelho
e do verão
onde um dia existiu
um homemem em chamas,
restou um pequeno
monte de cinzas
e alguns ossos
que resistiram,
teimosos...
no buraco da cara
onde um dia brilharam
duas brasas incandescentes,
existe agora dois nacos de carvão
adormecidos...
(II)
no que houver de esperança
nesta alma em falência,
algo permanencerá
incólume,
peço em prece...
e, de algum lugar
bem dentro
algum vento
haverá de soprar
estas brasas adormecidas
- filhas do desejo -
de que pelo menos
uma última palavra
"faísque"
no breu.
abração do
Roberto.
ps: (rindo, aqui) por pouco, quase cometia mais um poema ruim...rs
roberto, amigo-irmão,
Eliminarsomos combustão que tudo converte em cinza mas, como bem fazes notar, mesmo nesse auto de fé que adormece os vivos e desperta os mortos, há de haver sempre
"pelo menos
uma última palavra
a faiscar
no breu."
a palavra e as suas eternidades, meu caro amigo!
abracílimo!
Todo verão é cínico! Sabe que o carvão é pouco, mas arrisca acender fogueiras.
ResponderEliminarUm poema sedutor como o fogo! ( eu, pelo menos, me encanto )
Bj, poeta queridaço
deixa-me arder nas tuas palavras, ira, minha querida amiga-poeta de todo o tempo, seja em voz alta, seja em silêncio.
Eliminarbeijo grande!
Brilhante é pouco pra quem tem fogo mas ventas...
ResponderEliminarBeijo, poeta preciosíssimo!
o brilho que começa sempre no cristal das palavras e em suas transparências: as tuas palavras.
Eliminarbeijos, cris-a-tal!
Eurico,
ResponderEliminarTenho uma relação controversa com a imagem do verão. Penso que é a chama, a centelha, o “fogo que arde sem se ver”; mas também representa o fugaz, o furtivo.
Faço aqui uma apologia declarada ao outono, quando decidimos dar sequência à combustão que acendeu nosso motor sentimental, quando decidimos guardar a seiva para a estação mais fria, quando solidificamos “a condição indestrutível de ter sido”. (título do livro da querida Helena Terra).
Isso nos garante fortes e protegidos, apesar das intempéries, pois decidimos pela evolução, pela sequência. Queremos o próximo verão compartilhado, e ele virá!
Ao passo que pessoas-verão, se deslumbram, se encantam com o outro, e com a busca de outros e outras coisas-verão. Realizam-se apenas na chama, na combustão. Numa imaturidade plena, embora voluntária, ao optar por ficar apenas na estação do calor.
Exemplo disso, um fragmento do romance “Castillos de cartón”, da escritora espanhola Almudena Grandes (romance que neste fim de semana, caiu como paraquedas em mim, numa feira cultural da cidade:), aqui deixo:
“Era demasiado amor. Demasiado grande, demasiado complicado, demasiado confuso, y arriesgado, y fecundo, y doloroso. Tanto como yo podía dar, más del que me convenía. Por eso se rompió. No se agotó, no se acabó, no se murió, sólo se rompió, se vino abajo como una torre demasiado alta, como una apuesta demasiado alta, como una esperanza demasiado alta.”
Beijos dos Pampas!
PS.: Tive que salvar os comentários antes em bloco de notas. Não estava conseguindo postar. Agora troquei o loggin, veremos se dá. Volto para ler tua resposta e verificar se deu certo.
é o terceiro texto lido hoje que me faz pensar no como é essencial ver os arredores sob efeito de luz negra... ou de um sexto sentido!
ResponderEliminarbeijo, meu querido poeta de invisibilidades fluorescentes!
;)