sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

o volume do silêncio nas réstias do tempo

On Jubilee Street there was a girl named Bee
She had a history but no past
Nick Cave & The Bad Seeds, Jubilee Street 


fotografia de eurico portugal


no cair da voz
deixo-te sozinha, entregue ao
silêncio e a um ramo de flores
sem ruído, sem um mover
de membros, sem um uma agitação
de músculos,
apenas o som ao contrário,
lágrima nas mãos
de piratas com memórias raspadas
e adagas a crescer nas pontas
das unhas.

o silêncio sobe
nos intervalos da sala, dentro
de ti e de alguns enigmas
a ameaçar o céu e o chão
de todas as coisas;
voltas as costas, falas
baixinho
e da boca de pétalas cospes
rebanhos de caligrafia em chamas,
a queimar fotografias e cartas
que se tinham esgotado, já,
na minha cabeça.

já não temos nome e a geometria
dos sexos é apenas todos os lábios
que beijaram e algumas línguas
a pingar para o derradeiro dia do nosso
calendário.
sobram os dias do porvir
outras contas
e talvez novas mentiras
a alicerçar este combate dos corpos contra
a solidão

enquanto a voz tomba
com estertor
no silêncio pardo de um abrir
e fechar de pálpebras.



21 comentários:

  1. O poema é desolador até aos ossos; um frio percorre a espinha. A girl named Bee que sofre, sem ser entendida por um par que sofre igualmente sem o ser. Sim, porque há o par:

    "e da boca de pétalas cospes
    rebanhos de caligrafia em chamas,
    a queimar fotografias e cartas
    que se tinham esgotado, já,
    na minha cabeça.


    já não temos nome e a geometria
    dos sexos é apenas todos os lábios
    que beijaram e algumas línguas
    a pingar para o derradeiro dia do nosso
    calendário."

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    1. há sempre um pedaço de um eu e de um tu em cada história. mesmo que dos outros.

      abraço!

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  2. O título já é um poema enorme, Eurico. Tão belo! Adagas na ponta dos dedos e o céu e o chão (pus-me a pensar...) de todas as coisas haverão de ficar visíveis para mim a partir de agora. Sempre um assombro te ler, querido!

    Abraços,


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    1. taninha,
      quanto de nós é a poesia e as suas epifanias, mesmo quando nos escondemos nas suas [im]possibilidades?!...

      beijo com todo o meu carinho e a minha amizade!

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  3. Esse calar das coisas, o corpo que sequer murmura... seu poema passou arranhando como ramo de flores nos galhos, mas destes que se agitam.

    Beijo.

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    1. flores nos galhos que se agitam e arranham, flores nos galhos que nos mantêm vivos e nos deixam ser alguém, mesmo que em silêncio lá longe, tão longe...

      beijo, larinha|

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  4. o silêncio é arma ameaçadora, talvez, a maior delas, mas o que pode ele contra todas as farsas do desejo? os corpos são demônios em forma de canções e somente eles conhecem o volume das vozes. Os poetas, até que tentam!

    Ah, poeta, mais um clik de olho de coruja
    bj de toda amizade

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    1. que dizer diante do teu comentário-poema senão que o leio e o releio procurando tocar-lhe todos os sentidos, os que deixas na copa da palavra e os outros, os que espreitam por debaixo da sua raiz... e tantos eles são...

      beijo e um agradecimento, ira querida!

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  5. euriquíssimo,
    tá na hora de pensarmos em reunir fotos e poemas num livro.
    o que é que cê acha???
    adadondé que cê foi achar este lugar mágico, saído de uma cena de Rumble Fish?
    conta pra mim que eu vou lá, nem que seja só pra conversar com as nuvens.
    eu gosto do seu jeito de ver e sentir a vida.

    abração do

    roberto.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. robertílimo,
      este lugar é mesmo mágico e ainda mais quando se consegue conjugá-lo com um céu à rumble fish, saído da tela preto e branco não de um copolla [que esse fez coisas extraordinárias, verdade?], mas de um retrateiro amador [o termo é mais justo do que fotógrafo]. fica em cabanelas, nas margens do cávado, e foi, em tempos, uma fábrica de grande laboração na área da cerâmica. fica a não mais de 6 km de minha casa. da próxima vez vamos lá juntos que verás que vale a pena.

      abracílimo!

      jorge

      p.s. sim, tens razão, temos de começar a pensar reunir algumas coisas, porque o tempo passa e nós com ele. entretanto, também eu espero uma novidade editorial tua para este 2013, com lançamento em diferentes partes do mundo - incluindo a nossa braga. fico a contar.

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    3. braga tá no roteiro, claro. estou vendo com bispo, provavelmente em agosto...
      temos no roteiro de lançamento, por enquanto, são paulo, belo horizonte e governador valadares, com algumas outras possibilidades (fortaleza, vitória - que é terra da cris -, vitória da conquista - na bahia de assis e taninha)...
      aqui nos eua, new york e newark... mas ja ajeitando boston, danbury-ct e miami...)


      o livro tá pronto. vamos costurando tudo isto aos poucos...
      to na espera da capa. a décima capa. deve ficar pronta esta semana. mando procê dar uma "zoiada" (zoiar com os zóios......rs)

      eu vou lhe deixando saber das cousas...

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    4. agosto, noites mornas e claras, com diamantes nos olhos sobre aquilo que nem sempre sabemos ver. perfeito, digo eu. até porque coincide com as férias escolares, o que me dá um pouco mais de tempo para estar contigo, no rali das tascas :)

      abraço e até um qualquer agosto da nossa saudade, robertílimo!

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  6. para todos os silêncios: o silêncio em forma singular


    abraço

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    1. bom saber-te deste lado do silêncio, assis dos mil e um cânticos. a presença em forma singular e eu aqui a sorrir de satisfação plural.

      abraço, caro amigo!

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  7. Eurico querido,
    o relógio tem dois andares, um marca o caminho; o outro, a solidão.

    Quando estamos no andar de cima, queremos sair por uma das janelas da cronometria, derrotar os segundos na ânsia de visualizar o andar térreo onde está o caminho; mas os ponteiros da solidão impedem a visão e tudo parece ficar opaco, sem nitidez, em uma miopia crônica de lentes extraviadas.
    E faz-se o silêncio nos dois andares, a duas vozes, vozes mudas em dois horários, um e outro sol, duas estrelas de fogo gesticulando na inércia por falta da opção do som...
    E da privacidade, pouco a pouco, o silêncio se transforma em privação.

    E o tempo passa... e o tempo passa...
    tic-tac... tic-tac...

    Como disse um dia o velho Borges:
    “Estar o no estar contigo es la medida de mi tempo”.

    Beijos e beijos!

    PS.: Também com saudades.

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    1. cecília,
      o compasso do tempo a marcar o descompasso da solidão, esse lugar onde todos acabamos por nos reencontrar, um dia, com asas nas mãos e tratando por "amigo" os pássaros.

      beijinho grande com saudades, muitas, de um tempo em que os sotaques do minho e de porto alegre sejam um só!

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  8. Eurico, senti tua postagem hoje com a dramaticidade de quem está com gripe (e um pouco de febre), num dia que janela a fora faz quase 42 graus, literalmente, além de um céu cinzento anunciando uma chuva para refrescar, mas que nunca chega. Ai! Esses meus Pampas!
    E o poema "minha vida", juntou-se a teu poema-vida, a duas vozes..., ou em dois tempos, como apontei por lá. E quando do que escreves é essencial para mim, amigo? E também o que ainda escreverás!

    Beijos na esperança de não te passar este gripão via megapixel :)

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    1. aninha,
      só os 14 graus dos pampas e os 10 da minha terra... mas é nos contrastes que a pele cintila e desce, com asas de borboleta, às flores das mãos, como se tudo pertencesse a alguma coisa.

      um beijinho desejando que a gripe voe pela janela fora!

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  9. ah, só agora percebi que meu comentário deixado aqui há alguns dias preferiu fazer parte do volume do silêncio nas réstias do tempo...

    só o silêncio sabe o que foi dito... e talvez deva ele prevalecer!


    beijo, meu amigo de voz que emociona!

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    1. jô,
      venhas tu envolta num manto de palavras a arder ou no mais difuso dos silêncios, a tua presença é-me sempre matriz do dizer. sempre.

      beijinho!

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