Havia-me preparado para todas as eventualidades da vida. Imaginei-me amarrado para ser fuzilado, esforçando-me para não tremer nem chorar; [...] supus-me reduzido à maior miséria e a mendigar; mas por aquele transe eu jamais pensei ter de passar. Como é difícil controlar o amor.
Lima Barreto, in Triste fim de Policarpo Quaresma
É preciso estar atento
para colher os rápidos frutos
da dor
Adelino Ínsua
fotografia de jorge pimenta
O estranho aproximou-se, e sem pedir licença, sentou-se no mesmo banco, suponho que tenha me observado de soslaio, pois senti uma qualquer coisa de quem sabe ou quer adivinhar. Pousei meu olhar mais vazio por sobre as páginas do livro, deve ser assim que as atrizes representam. Foi quando cortou o silêncio com voz grave, como se apertasse a mãos firmes as folhas secas daquele outono teimoso de sol:
- Você é feliz? – perguntou-me sem qualquer cerimônia
é num recanto sem nome,
ponto mínimo entre a pedra e
a memória,
a agitar água saliva e servidões
com que espera vencer as suas pequenas
mortes.
nenhum vento nos tinge as mãos
na vertigem do amor,
esse sânscrito secreto
a incinerar desejos
e a consumir lábios
com que serenas,
minha flor de orvalho,
os ecos de fogo
que me lavam a boca.
quantas letras do seu nome
pousam
na primavera do corpo?
Cortou novamente o silêncio, e com a mesma voz grave, insistiu:
- Você é feliz?
Ana Cecília Romeu & Jorge Pimenta
Jorge, meu amigo,
ResponderEliminartri-fixe, tchê, ‘verdad’? :)
Eis aqui o resultado de mais uma viagem literária na tua companhia, o que é sempre muito instigante, pois é como montar uma pequena torre com pecinhas de prosa a se encaixar em pecinhas de verso, com alicerces inusitados e o desafio de deixá-la forte e rija a fim de ser, ela mesmo, um convite e boas-vindas aos outros amigos para a sequência dessas letras. Uma torre do tamanho suficiente a alcançar a linha do horizonte, onde se possa avistar os Pampas e o mar de Portugal no mesmo esquadro.
Mas houve uma exceção..., uma conversa tua a italiana bonitona das Histórias do Condomínio, fiquei sabendo disso! :)
E, não, não vou te agradecer... :) Diz-se que não se agradece aos amigos; mas se partilha, se convida, então te convido à sequência do café, seja em Braga, em Porto Alegre, ou qualquer parte do mundo que sirvam aquele café forte que conhecemos muito bem.
E sejam bem-vindos todos que por aqui chegarem à leitura.
Jorge, abraços e beijos para ti!
é assim o coração dos homens, alimenta-se de pedaços de céu e de pó de estrelas que, despertadas as palavras, lhes raspa a forma deixando os sentidos escorrerem, como seiva através da pele do pinheiro, líquidos, leves, soltos, verticais, completos. seja em verso, seja em prosa, por isso só as mãos operam milagres a cavalo da escrita - o ato mais próximo da própria respiração.
Eliminarum beijo para ti, aninha das pampas, regozijando com a presença de tantos amigos da escrita e da vida!
Ah....que alegria imensa me deparar com estes dois talentosos e queridos amigos! Jorge & Ana!
ResponderEliminarQualquer elogio meu não faria juz a tão perfeita sintonia.
Os meus mais sinceros parabéns e obrigada pelo deleite de le-los,
meus dois queridos!
beijos aos dois!
este, por instantes, um momento a fazer recordar viagens (de luz e sombra) onde pequenos milagres (sobretudo o da amizade) se operavam repetidamente.
Eliminarfeliz por este reencontro, ma. beijinho!
Parabéns :)
ResponderEliminarTentarei acompanhar com razoável frequência. Não tenho conseguido acompanhar a mim mesma direito rsrs, mas um dia me dou um jeito. Talvez, o caminho seja esse é de seguir alguém mais disciplinado e organizado. Adoro Bowie!
Quanto à pergunta final, cada vez mais acredito que felicidade não é resultado, é processo. Estar em movimento é estar vivo.
Beijoss :)
disciplinado e organizado, eu? :) serena-me a ideia de que talvez pré-exista alguma ordem à dispersão e ao caos e que esta se manifeste justamente quando as coisas parecem fugir do controlo.
Eliminarsobre a felicidade: sinto-a como ao segundo incipit da postagem, de adelino ínsua:
É preciso estar atento
para colher os rápidos frutos
da dor
beijos, lelena!
p.s. vou ter o roberto por cá já a partir de segunda-feira, sabias? :) continuo a sonhar com aquele dia em que uma reunião alargada num qualquer recanto desse nosso mundo se faça suave possibilidade.
A prosa e o versos uniram-se em beleza profunda. Eles se amam. E amei a parceria!
ResponderEliminarBeijos,
o amor pela palavra - haverá forma mais perfeita de amar do que essa?
Eliminarbeijos, taninha!
de todos os milagres que conheço, o da amizade é o maior deles.
ResponderEliminare é bonito ver isto de parceria, de compatilhamento, de "completamento", fruto da generosidade e empatia duas duas pessoas.
a amizade é, aos meus olhos, a mais pura forma de amor (logo após o de pais e filhos e vice-versa...rs).
o amor entre homem e mulher (ou homem e homem e mulher e mulher) , vira e mexe, fica contaminado pela sacanagem.
jantaremos juntos na segunda-feira, jorgíssimo. estivesse conosco em braga, ana cecília faria bonito.
abração do
r.
a amizade que começa e se perpetua nas mais pequenas e impercetíveis coisas do quotidiano. assim uma palavra, um poema, uma presença, um abraço, um arroz à braga... e tanto, mas tanto do que nos define quase sem darmos por isso.
Eliminarabraço, robertílimo, e até esse amanhã que nunca mais chega.
Lindo texto, sem palavras para comentar, e que resultado maravilhoso a parceria de você Cissa com o Jorge, belíssimo mesmo, parabéns aos dois.
ResponderEliminarJorge, fiquei super feliz em saber que você tinha retornado com um blog novo, verdade que já estava na ativa já há algum tempo, mas graças à Ana, que me passou o link, pude chegar aqui, e voltarei a acompanhar as suas belas criações literárias. Desde já te desejo tudo de bom pra ti.
Abração aos dois.
paulo,
Eliminareu é que agradeço as tuas simpatia e presença. o viagens de luz e sombra entrou em processo de autocombustão, em meados do ano passado, e assim devagarinho fui reinventando em mim os caminhos da escrita, de modo subtil, discreto, quase escondido. aos poucos, a palavra vai-se fazendo candeia sobre os passos e tudo o que em mim titubeava e resistia desapareceu deixando para trás uma leve reminiscência do pó.
feliz por este reencontro.
um abraço!
Maravilhosa parceria, assim como são maravilhosas as imagens aqui deixadas. O incipit: perfeito, afinal algumas letras pousam na primavera do corpo.
ResponderEliminarBeijos, Jorginho e Cissa-flor!
Jorge, como sempre, exímio fotógrafo.
adri,
Eliminara fotografia é mesmo a minha mais nova paixão, talvez por a sentir cada vez mais como uma espécie de complemento da escrita.
aqui, para o caso de a curiosidade espreitar: http://olhares.sapo.pt/jorpimenta
beijinho com amizade!
Grande duo literário! Gostei muito do espaço e da parceria, isso sem falar do texto com seu viés descritivo que nos vai moldando os lugares os sentimentos. Em certa medida me lembrou Kafka na mistura de alguns elementos intimistas de Clarice, a Lispector mesmo. Adorei! Abraços aos amigos!!!
ResponderEliminardilso,
Eliminarhá coisas que sentimos como inevitabilidades a ganhar força, devagar, no casco do tempo: este reencontro é seguramente disso irrefutável prova.
a presença, a agudeza na análise, a amizade; por tudo isso, um forte abraço meu!
p.s. e kafka, sempre a modelar os puzzles que se (des)organizam dentro de nós.
Ei Jorginho, que legal meu amigo! Vc voltou!
ResponderEliminarPuxa estava fazendo falta. E agora com uma parceria com a Cissa? Que legal!
Parabéns e desejo sucesso aos dois!
andré, meu bom amigo de tanto talento na escrita da narrativa,
Eliminarna verdade, como dizia ao paulo lá atrás, o orvalho do fim do medo tem já alguns meses de vida, mas, enquanto as palavras não sentissem a força do sopro que as gera, foi permanecendo um tanto incógnito, humedecendo, mais do que molhando. aos poucos vai-se tornando chuva. :)
feliz por este reencontro.
um abração!
Perfeito e lindo! E viva a Ciça e o Jorge, cantados em versos, cantados em prosa. Sintonia perfeita entre os dois, mas com toda introspecção do poema, não sei se poderia saber se na prosa se é feliz.
ResponderEliminarbjkas doces para vocês!
a prosa e a poesia, marly, duas faces de um mesmo rosto. seja numa, seja noutra, acredito na felicidade pela escrita, quando a escrita é a causa, quando é o efeito ou mesmo quando é ambas simultaneamente.
Eliminarum beijo!
Que perfeito e lindo texto! Viva a Ciça e o Jorge cantando em versos, cantando em prosa. Eu fiquei pensando na pergunta e nessa introspecção poética do jorge, acho que por tantas vezes perguntasse, a resposta íntima seria assim fluída e sem fim.
ResponderEliminarAdorei sua introdução na prosa, com uma narração que a gente visualiza.
bjkas doces pra vocês!
Impossível não me sentir feliz com seu retorno. E que parceria linda!
ResponderEliminarUnir Ana Cecília e Jorge Pimenta, nas letras, foi sublime. Parabéns a ambos. Bjs.
feliz também por esta sucessão de reencontros, marilene.
Eliminarum muito obrigado! beijos!
duas vozes para (des)concerto da existência
ResponderEliminarse há uma pergunta que desconcerta: eis
ou
"a felicidade é uma arma quente"
abraço e beijo
e queima, assis, queima, mesmo que nunca venha a disparar...
Eliminarum abraço, poeta!
Olá!
ResponderEliminar"Você é feliz?" Que pergunta complicada. Parece simples, porém traz na essência tantas reflexões, tantas histórias e conceitos. Curioso o que seja a felicidade...
Lima Barreto teria dificuldades em responder isso também. ;)
Abraços!
jaime,
Eliminarpor haver perguntas de resposta difícil - se não mesmo impossível - cresceu com o homem, qual irmão mais novo, a poesia :); só, nos meandros do que se sente, estaremos um tanto mais próximo, não da sua definição, mas da sua perceção.
um abraço!
sensibilidades entremeando-se!!
ResponderEliminarSou feliz neste exato momento!
beijos aos dois queridos!!
e feliz sou eu, quase diariamente, ao inebriar-me com a tua voz que en-canta, jô.
Eliminarbeijos!
há presenças que o são bem para além da sua própria manifestação material; porque pré-existem à matéria.
ResponderEliminaragradeço a todos os meus amigos da escrita e da vida que por aqui marcam presença, àqueles que vêm acompanhando estas gotas de orvalho do fim do medo desde a sua (secreta e sob pseudónimo) criação, há quase um ano; também àqueles que agora se juntam e que sempre senti presentes.
um forte e amigo abraço!
Lindo! Adorei estas duas vozes.
ResponderEliminarUm beijinho e parabéns a ambos!
Meu querido Poeta
ResponderEliminarBem vindo, tinha saudades de te ler e desta vez com uma parceira de peso também. Sintonia perfeita entre a prosa e a poesia que se completam.
Um beijinho com carinho (e não desapareças de novo)
Sonhadora
Jorgíssimo
ResponderEliminarA querida Cissa me convidou e é claro como não vir aqui para me deliciar com a poesia de dois grandes talentos? E quando existe o amor, o carinho, a amizade e o compartilhamento é preciso perguntar?
Felicidade é isto : entre luz e sombra, o equilíbrio que faz toda a diferença.
Fico feliz com a sua volta.
Uma boa tarde
Bjs.
Prosa poética - verdadeiro hino ao amor pela palavra ...
ResponderEliminarFormula única de transmitir o que se sente e nos transcende.
Duas "vozes" para um só DÓ...
Doi, doi muito, mas cura...
Beijinhos, querido amigo!
Parabéns aos dois!
Precisei dar as costas ao tempo feliz, o da escrita, para colher algumas gotas de dor. Fez-se necessário algumas mortes, o cotidiano tem lâmina afiada, em caso de novas emoções. Parti solitária, de um mar ilusionista, com idéias de sólidas terras, pois há essas exigências intermináveis da vida, muito embora inúteis. Cá estou, sem respostas ou perguntas, de volta ao lugar onde melhor respiro e me reinvento.
ResponderEliminarUma parceria afinada! Pensei: como posso amar, e tanto, alguns estranhos?
Beijos, meu poeta diário, Jorgito
Beijos, minha amiga das grandes prosas, Cissa lindona
Jorgíssimo
ResponderEliminarVim rever esta linda postagem e também desejar magnífico dias natalinos bem iluminados para você e toda a família.
Beijos.