sexta-feira, 12 de abril de 2013

versos inclinados a lisboa e ao corpo




deste-me lisboa
[…]
és homem e eu mulher
não verbalizei os nomes
dos nossos corpos
mas foi como se o dissesse
quando te arranquei do medo
e o candeeiro se fechou na noite…

ode a lisboa, Ana Salomé




apenas uma linha
traço calcário a definir o que não foi,
enquanto pernas magras trepam, em
valsa lenta, pelas calçadas do olhar,
lisboa, estação do ano,
bairros a estender noites até ao
corpo,
rasura simples e
caligrafia incompleta
como se tudo fosse metáfora de
coisa nenhuma,
lisboa a tocar o céu
em monólogo
porque há um deus que dorme e nada
sabe sobre as vozes que falam
alto
lisboa de olhos abertos
lisboa adormecida
e o tejo, lá fora, a guardar a
chuva
em pequenos gestos sobre os dias
pontes entre ninguém e
toda a gente,
lisboa rapariga
a fazer ninho no poema,
lisboa mulher
a tombar por mim adentro,

e sobre os meus olhos caio
sem ruído
por não saber falar-lhe.

fotografias de eurico portugal


19 comentários:

  1. Acabei de acordar, liiguei o micro e, parece, ao encontro desse olhar. Do olhar do poeta sobre Lisboa. Arrebatou-me a imagem, lá no alto, antes da leitura. E depois cada verso, cada imagem... Como são raras as tus imagens poéticas e de uma beleza cheia de um lirismo aconchegante. lisboa rapariga/a fazer ninho no poema/lisboa mulher
    a tombar por mim adentro...

    Era para emudecer e sentir, apenas. As palavras comprimem as imagens. Tão belo, Eurico! Tão imenso poema...

    Beijos,

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. lisboa é mais do que uma cidade, taninha. tem luz própria, aroma de gente, trajos claros e melodias no andar. a conhecer, para quem não; a regressar, para quem sim. porque, de uma ou de outra forma, vive-se... porque ela vive.

      beijinho!

      Eliminar
  2. Lisbon revisited

    "Outra vez te revejo - Lisboa e Tejo e tudo -,
    Transeunte inútil de ti e de mim,
    Estrangeiro aqui como em toda a parte,"

    do nosso Álvaro

    grande abraço

    ResponderEliminar
  3. "Alguém diz com lentidão
    Lisboa, sabes?
    Eu sei,
    é uma rapariga descalça e leve,
    um vento súbito e claro, nos cabelos
    algumas rugas finas
    a espreitar-lhe os olhos
    a solidão aberta nos lábios e nos dedos
    descendo degraus e degraus e degraus
    até ao rio"

    dizia Eugénio de Andrade, pela voz dos Trovante
    http://www.youtube.com/watch?v=JXPGmIvth_A

    beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. letra que parece ter nascido nas guitarras dos trovante e na voz do represas. e eugénio... sempre eugénio.

      abraço!

      Eliminar
  4. Lisba, menina e moça, menina,
    da luz que os meus olhos veem tao pura
    teus seios são as colinas, varina
    pregão que me traz à porta ternura

    http://letras.mus.br/carlos-do-carmo/483795/

    outro beijinho

    ResponderEliminar
  5. querido amigo!
    lisboa nos teus olhos, tão bom imaginá-lo...e sentir os teus versos tocar esse céu de poesia.

    não resisto de entusiasmo dizer-te que hoje (dia de folga) fui até ao castelo de s.jorge, o miradouro estava incrivelmente belo, o rio brilhava de sol, dois homens tocavam música, outros pintavam aguarelas da cidade, fiz-me quase turista :-) a saborear. Desci as ruelas até ao rio e tirei uma fotografia nesse mesmo lugar da primeira fotografia, que talvez não resista postar...

    beijinhos grandes!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. ser turista em casa. experimentei-o pela primeira vez, de forma consciente, quando um amigo blogger me pediu uma reportagem (texto e fotos) sobre a minha cidade. acredita que foi da maneira que descobri tanto que, sabendo existir, nunca tinha notado verdadeiramente. a forma de olhar a marcar o compasso...
      os lugares que percorreste, hoje, andy, neste teu reencontro com as colinas, são sempre pontos de romagem meus quando toco lisboa com as mãos. este cais das colunas é, porventura, um dos emblemas maiores da cidade, até por conjugar a terra com a água, verdade? e o que seria lisboa sem as ruas de pedra e o tejo?

      um beijinho!

      Eliminar
  6. minha sobrinha e meu broda olham pro mar e veem uma baliza com um gol de classificação do benfica, que ontem empatou com o newcastle (no que eu comia uma galinha de cabidela no portugália e falava de você com uma nova amiga, professora da universidade de Rutgers).

    ana salomé é uma das melhores poetas portugesas da nova geração.
    gosto das coisas dela. tem profundidade.
    tem lastro.
    já nasceu com cem anos. feita.

    e a cereja do bolo é o poema do amigo, com uma fotografia de lisboa.
    uma foto que ele não me deu.
    uma lisboa que ele me roubou.

    eu dei-me ao porto e sou homem de uma mulher só.

    abração,
    r.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. robertílimo,
      os olhares para a baliza, do teu broda e da tua sobrinha, não se deram aí, no terreiro do paço, mas logo ali ao lado, quando a noite se fez luz para celebrar os seis golos em tons de encarnado. e quanto aconteceu já depois disso - meias finais da liga europa, da taça de portugal e quatro pontos para gerir nas cinco finais que faltam.
      salomé canta lisboa, mas todos nós a celebramos a ela, tal a sua genialidade! eu, com voz roufenha, ergo o canto à cidade, segredo-lhe promessas, promessas de novos passos, novos lugares, boa conversa, uns copos no bairro alto, o tejo a confidenciar histórias de marinheiros e sereias, e o meu amigo ali comigo, a cortejar não outra mulher, mas a mesma, apenas trajando em tons diferentes. porque o porto e lisboa são uma e a mesma alma; descobri-lo-ás comigo - i promise!

      um abracílimo!

      Eliminar
  7. Coincidência, Eurico!
    Há pouco combinamos, eu e a flor mais linda de Portugal, uma viagem até Lisboa para assistirmos a um jogo do Benfica, ideia da minha querida amiga, confirmes com ela. De pronto aceitei, mas com uma ressalva, tenho que receber de presente uma camiseta do Benfica,impossível torcer para um time sem estar uniformizado; em troca ela receberá uma do meu imortal tricolor gaúcho Grêmio, já aceita.
    Como percebestes já está tudo combinado, e é a sério, tá bom?
    Como duas adolescentes que somos, deixamos para um segundo momento a comunicação da viagem ao papai, que agora faço, com o convite a nos acompanhar, claro.

    Deixo de presente para ti e tua família, que muito bem nos acolheram, a música "Vira virou" que une o nosso Rio Grande do Sul a Portugal. É da dupla de gaúchos de Pelotas: Kleiton & Kledir. Fizeram, curiosamente, em homenagem a Lisboa:

    "vou voltar na primavera, e era tudo que eu queria, levo terra nova daqui"...

    Sempre levamos terra nova quando os lugares, mas principalmente as pessoas nos marcam.

    Neste link:
    http://www.youtube.com/watch?v=XvJjgz4u-_Y

    Abração!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. aninha,
      essa princesinha de portugal é fã de lisboa e do seu vermelhão! teve, aliás, direito a uma camisola personalizada do clube da última vez que lá foi, há 15 dias; partilho contigo este detalhe: sobre o número quatro [a sua própria totalidade], exigiu o nome MAGGIE, quando poderia ter escolhido a estampagem de luisão ou aimar. assegura que o seu amor ao clube está acima daqueles que o defendem hoje, porque não tem tempo. silenciou-me... e lá tive eu que lhe comprar a bendita da camisola :)
      pois, não vejo a hora de, também eu adolescente, agarrar na minha camisola e correr para a luz num programa que sei pejado daquilo que lisboa mais tem a oferecer: afetos. bora lá? [curioso, a minha camisola também tem o número 4 estampado encimado pelo meu nome, com o único senão de ser azul, a cor alternativa de há uns anos!? ainda hoje não entendo como pude ter comprado uma camisola com a cor do grande rival!? :); quem sabe é mesmo essa a que tu queres ganhar de presente da maggie - afinidade cromática com a do teu grémio.

      beijinho nosso desejando que o amanhã se faça agorinha mesmo!

      p.s. kleiton & kledir: ouvi pela primeira vez falar deles pela boca do roberto, esse broda de minas, de jersey e do mundo. uma nova referência, desta vez vinda de alguém que também me toca fundo - tu. o vídeo para ver e ouvir agora mesmo.

      beijinho outro!

      Eliminar
  8. Ao olharmos o nosso lugar, lugares se erigem em nosso íntimo: edificações de tantos mundos!

    Beijo, poeta, amigo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. e os lugares que são eles mesmos e tudo o que nos habita.

      beijos, jô!

      Eliminar
  9. Veja o que faz a poesia!
    Lisboa é um suspiro antigo que, por desejá-la tanto, dei-lhe vida de olhos fechados. Amei-a desde o primeiro momento que coloquei os olhos nas almas de Pessoa, este homem que é minha paixão eterna.
    O poeta, de versos inclinados a Lisboa e ao corpo, confessa a cidade mulher e, caído sobre seu encanto, sussurra-lhe ruídos roubados das pedras indiferentes aos passos e do Tejo que é um grande contador de histórias, sem imaginar que olhos distantes experimentam essa viagem com o coração acelerado
    Bj, poetaço das minhas viagens por esse corpo chamado Portugal

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. porque as viagens se cumprem de olhos fechados, mas porque se fazem ainda maiores se abrirmos os olhos: há uma lisboa à espera de cada um de nós, uma lisboa à tua espera, ira, minha amiga.

      beijo!

      Eliminar
  10. "lisboa rapariga
    a fazer ninho no poema,
    lisboa mulher
    a tombar por mim adentro"

    Isto é música. Pura,

    Adorei, Eurico! Beijinho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. é assim mesmo que a sei, que a sinto, essa lisboa, sandra: mulher de saias longas, em caminhar alongado, de cá para lá, de lá para cá, como se bailasse ruas e bairros.

      beijinho!

      Eliminar