A vida espreita-nos sempre
Fernando
Pessoa, O marinheiro
depois,
a terra ergueu-se sobre
a terra ergueu-se sobre
o tempo
– continua a
chover-nos mas
o que é a
pele senão
coleção incompleta
de recordações
como o
derradeiro olhar ou o leite de
figo a assanhar
a boca?
depois,
o tempo deitou-se sobre
o tempo deitou-se sobre
a ferida
– dói sempre
tanto esse
intervalo entre
a vulva e
a
casca,
entre o
vazio das pernas
e o fôlego
do ventre
depois,
a ferida singrou ventos e linha
a ferida singrou ventos e linha
sobre mundos
costurados
– tudo é
demasiado na falência de
mãos
impossíveis
enquanto os cabelos
tingem futuros com vendas
nos olhos,
tudo é
demasiado no movimento
vazante
e nós… nós,
cada vez
mais anónimos,
nós acaso
sabemos
alguma
coisa?
"o que é a pele senão
ResponderEliminarcoleção incompleta de recordações
como o derradeiro olhar ou o leite de
figo a assanhar a boca?"
se sabemos?!
sei que sinto o que não sei! e isto bem me basta!
que texto!! li tanto e de todo jeito... e levei!
beijo, meu amigo de olhar único!
saber e sentir, jô que equação a que aqui deixas: saber que se sente mesmo que nada mais se saiba.
Eliminaraté o anonimato nas pálpebras se sente enquanto tudo o mais é luz de candeeiro a obliquar, fria, sobre os vultos difusos e já de costas.
beijo, querida amiga!
Não tem nada a ver... ou terá ? a fotografia lembrou-me o cartaz do filme "O Diabo veste Prada". "Sentir, sinta quem lê!" Eu li e não sei o que dizer, apenas concordo... concordo...
ResponderEliminarnão me recordo do cartaz do filme "o diabo veste prada" - tive de confirmar no google :); esta fotografia nasce de um movimento cinematográfico de um filme do tarantino que me impressionou. recordo-me da porta a abrir, da perna feminina a descer e a pousar no asfalto. seguiram-se os primeiros passos para diante - outra foto que começa a desenhar-se-me, também.
Eliminarum abraço!
Eu nem sei qual imagem me arrebata mais, querido amigo. Essa imagem da pele como
ResponderEliminarcoleção incompleta de recordações...ah!...cabelos vendados tingindo futuros...ah!... Eu também li e reli e reli, com medo que a embiaguez me deixasse..rs E vou levar comigo também.
Beijussss,
a pele como metonímia de tudo quanto em nós é coleção iniciada mas de final ainda por divisar, verdade, taninha? o que em nós se completa, pois?
Eliminarbeijos!
querido amigo, leio-te, e a cada recanto das palavras levo comigo tanto sal, e cada vez mais essa verdade, saber que pouco se sabe...
ResponderEliminartalvez a pele que nos veste nos denuncie, sempre!
beijinhos!
p.s. subtil sensualidade respira este "depois"
a denúncia da pele e tanto por desvendar, querida andy - quão infinito é o que desconhecemos?
Eliminarbeijinho!
se possuísse todos os livros do mundo, ainda sim, eu seria uma história incompleta
ResponderEliminarbj imenso, poeta queridaço
possuir todos os livros do mundo: ser-se alexandria em chamas, por saber-se a porta do paraíso e não se ter a chave para nele se entrar. a incompletude basta-nos, verdade?
Eliminarbeijos, amiga linda!
nos movemos neste desconhecimento que embaraça os passos, marcados indelevelmente na pele e nas retinas,
ResponderEliminarabraço
conhecê-lo (ao desconhecimento) é sabermos um pouco mais sobre como caminhar.
Eliminarabraço!
Eurico querido,
ResponderEliminardeixarei aqui um pouco do advérbio de lugar em teu tempo-advérbio.
Um fragmento do conto “Alice Springs” do escritor e fotógrafo uruguaio, Mario Levrero, (falecido em 2004):
"Muchas veces había soñado, durante años y años, con llegar un día a Paris; sin embargo ahora yo no estaba allí, había llegado a Paris sin llegar. Yo estaba en Marie, y Marie ya no estaba, y ahora me movía sin sentido en una ciudad sin sentido."
Grande beijo!
aninha,
ResponderEliminarai, esta escrita sul-americana, em castelhano, que, pela tua voz, se faz primeira em mim: como tantos dos lugares de cada um de nós começam e acabam além-geografia...
beijinhos!