Quando a minha mão
ia colher um fruto
o gume da folha feriu-me os dedos.
Yao Jingming, A noite deita-se comigo
fotografia de jorge pimenta
não sei já a
cor das açucenas
e o arco da
noite há muito atira
trémulas
paixões à rua
onde um gato
vadio
ensina versos sem rima à luz
do
candeeiro.
a pouco e
pouco o gás acende
presenças
enquanto lá
em baixo,
junto ao rio
do nome,
os navios dos
ossos adormecem
insónias na tua voz.
és tu a
noite,
a chama fria
a atiçar roseiras
com palavras
abandonadas:
sei que um
dia desejaste a mudez
dos espinhos
que não
podes dizer
mas hás de
repetir "amo-te"
antes que o
mundo desabe
e os corpos
se despenhem na melancolia
do fim do
tempo.