O castigo que escolhi
para mim próprio é saber aquilo que aconteceu a seguir.
José Luís Peixoto, Cemitério
de Pianos
fotografia de eurico portugal
passaste por mim de rompante
maldizendo
os que comem a terra e as suas larvas
os que têm relógio, tempo
e sabem de que matéria se faz a espera.
foi apenas por um instante que te detiveste à minha porta
por receares morrer aqui
[sim,
todo o corpo tem uma morte
mas nem todas são iguais]
e rejeitares ter
a vida já toda inscrita nas mãos.
eu sei,
tu és gato em rua deserta
não temente dos cães noturnos,
sem recear a luz bafienta sobre o granito
e até a tigela com as sobras da miséria te aquece o sorriso.
e passas,
passas sem um aceno, um bilhete, uma nota
e quanto àquele número de telefone:
extraviado nas azenhas do tempo
mas ainda a consumir
em fogo brando
os mesteres do olhar.
ao longe a cidade ressoa
e o canto volta as costas a tudo o que passa.
silêncio.
há um vazio nas esquinas onde perdura o teu perfume
ali mesmo
onde lavámos os nomes
e os incêndios agarrados aos corpos.
deito-me. levanto-me.
por vezes sangro e esqueço
e hoje sei tão pouco de ti
e ainda menos de mim.
o mais que adivinho já não cabe no poema.
Eurico, teus poemas me vêm tantas vezes como oráculo, a responder perguntas que mal ousei formular. E me encanta! Uma vida inscrita nas mãos, talvez me recuse a vivê-la, a transgredir as linhas. Belo poema.
ResponderEliminarBeijos,
taninha,
Eliminarquantas das linhas que se completam sem aquele que detém as mãos... há gritos que dão sentido à voz, mas que, por terem espinhos na garganta, nem sempre ousamos.
tão bom ter-te aqui.
beijo, amiga de tantos poemas!
nada cabe no poema, hum? porque tudo extravasa!
ResponderEliminarquando lemos, e o que lemos nos cabe, o que não nos pertence nos abandona... e cede lugar ao que é nosso antes de ser!
beijo, poeta amigo! Adoro te ver a passeio, lá pelo meu mundinho! :)
depois, jô, ainda há o que julgamos pertencer-nos e aquilo que de facto nos pertence... ou antes, aquilo a que pertencemos, antes mesmo de sermos.
Eliminaracerca de viagens: há aquelas que se não evitam. :)
beijo, querida-poetamiga!
euriquíssimo.
ResponderEliminaro poema é bonito demais.
e fez-me lembrar, ao final, de uma frase contida nesta canção de um amigo lá de minas gerais.
sei que você a encontrará no link:
http://www.youtube.com/watch?v=mzn-Ht_PEw4
abração, eurico!
robertílimo,
Eliminara canção-presente que aqui me deixas toca e toca e toca... equaciono postá-la num destes dias, junto com umas palavras que a calcem. já há tempos me convidaste a escutar "astrolábio" [já não me recordo bem de quem], mas como também essa melodia, então, me escolheu para lhe pertencer...
ei, e sobre francesinhas, peter e novembros, fica a saber que cá em casa há de tudo para fazer a bela iguaria; até arroz :) bora lá? :)
abracílimo!
Saio hoje daqui com este poema batucando meu sangue. ecos da pele de gato que me habitou um dia. seis vidas se foram com receio da morte.
ResponderEliminarbj, amigo meu e tão querido
sobra-te uma vida, ira, como a mim e a tantos outros que se perderam na ilusão da fartura. conseguiremos fazê-la valer, no mínimo, o mesmo que as demais seis?
Eliminarbeijo meu!
grato, morgan, sê bem-vindo.
ResponderEliminarum abraço!
Eurico querido,
ResponderEliminarbelíssimo conjunto!
Consegui vir nesta madrugada insone, finalmente, para ler-te com a alma acordada, (creio que isso acontecerá até umas 4h!).
Certa vez, li em algum lugar uma frase: "a escolha é sempre uma perda". Se percebemos pelo ângulo da falta de escolha, ao contrário do que possa parecer, existe a possibilidade da perda se transformar em uma escolha futura.
Quando há o descompasso entre dois ritmos existe a dor, muita dor...; mas não a perda total, pois mesmo quem é leigo em música sabe identificar a falta de harmonia.
Às avessas, o que é inevitável, faz-se música sempre!
Beijos muitos!
PS.: Sigur Rós..., pois tenho que explorá-los mais.
PS2.: Acabei por saber agora mesmo que consegui publicar em jornal importante uma crônica/devaneio que fiz em não mais que uns 5 minutos! Estou feliz! *_*
PS3.: Tens razão, sou otimista!
Mais beijos e te cuida, tá bom?
e no trilho da perda, há também tudo aquilo que se ganha, verdade, ana cecília?
ResponderEliminaro ser humano tornou-se urgente ao ponto de, por vezes, confundir o que é diferido no tempo com o que o tempo inviabiliza. no pequeno hiato entre estes dois tempos, há aquilo em que se crê - não é esta uma forma de ser verdade e inevitabilidade?
beijinho!
p.s. sigur rós é uma das bandas que têm marcado os meus passos [e des-compassos].
p.2.2 parabéns pela tua nova crónica que acaba de cruzar milhares de olhares.
talvez seja melhor assim, adivinhar, ter a certeza
ResponderEliminare ainda assim nada dizer
[e que boas fotos andas tu a tirar, meu caro]
beijo
laurinha,
Eliminaradivinhar e ter a certeza. alguma coisa mais é preciso dizer?
as fotos? sorte de principiante :)
abraço!
Eurico, sempre tão bom voltar aqui! abro a janela, desfruto, fico, volto e torno a voltar...
ResponderEliminare sigur rós, também adoro!
beijinho, amigo!
andy, querida amiga deste e de tantos dizeres,
Eliminarbom ter-te aqui, também, sempre. com e sem sigur rós.
beijinho!