domingo, 9 de novembro de 2014

À velocidade da solidão


Por fim, relembras... recordas o tempo em que escrevias vozes em cada verso, mulheres mordendo a noite, copos acesos de rimas à espera que os lençóis estendessem as mãos para as magnólias de um tempo que adivinhavas eterno. Sim, escrevias, e no bailado de tinta, emaranhavas serpentes que se lançavam para dentro do corpo – e o tempo foi água a correr, invisível, na clepsidra das veias.
Hoje já nada escreves e a palavra é apenas o abandono com que, de bengala na mão, recordas o fim da estrada. Por isso, corres... à velocidade da solidão.




Fotografia de Jorge Pimenta