I. imagem e
reflexo
é a besta, a fúria a varar
a noite
é o suor do
couro
o ruído, os cascos
e a
tempestade do sangue
a invadir
ruas
que se
arrastam para dentro das mãos
com que
escreves as cidades
do teu corpo.
fotografia de jorge pimenta
II. pós-socrático
sabedoria infusa:
começamos a morrer naquilo que
sabemos.
fotografia de jorge pimenta
III. pena
capital
tocas os
dias que faltam
com lágrimas
futuras:
a noite pode
até doer
mas o tempo há muito deixou de existir.
fotografia de jorge pimenta
IV. canção
líquida para o fim do tempo e o início do fogo
há dias em
que a felicidade te visita,
fins da
tarde
a mesa de
café junto ao rio
a luz do sol
a obliquar-te no rosto
enquanto a
água lava estações
e
brincadeiras
que te
tornam para sempre menino
abres as
mãos que não acabam no tempo
e descobres:
o lugar é incerto mas é nele que escavo o
fogo.
fotografia de jorge pimenta