... a sua sombra
chegava sempre primeiro do que a minha aos desígnios da terra...
Não é meia noite quem
quer, António Lobo Antunes
fotografia de eurico portugal
larguemos os
braços e as significações
para que a
noite não volte
a doer.
não somos os
únicos a morrer,
o mundo
morreu-nos
e com ele
tantos amaciaram pulsos e carótida
no vidro,
por delicadeza.
nada temos a
negar quando
até as mãos
e a tinta adoecem
na
trajetória descendente
das nuvens.
somos jovens
e ambos
sabemos que o sangue ainda morde
nas
autoestradas do corpo
num voo a
alta velocidade
desenhado
degrau a
degrau
pelo amor,
as coisas e o corpo.
e agora
que do
desastre temos largo
e inútil
conhecimento?
e agora
que as imagens
arrefecem
na
guilhotina das páginas?
e agora,
que o rosto se
estatela
na espiga do
sexo
por a não
saber morder?
e agora?...
do tempo
pouco se sabe,
mas sempre
que a voz reescreve
o silêncio das
árvores
há um verso
a fecundar
as cores
vivas dos frutos:
ventres,
correntes de areia e suave loucura
de tantos mundos
ainda por dizer.
fotografia de eurico portugal