O meu nome parou diante
do instante que o guardara.
Evapora-se a roupa, mas não sinto.
Herberto Helder,
Canção em quatro sonetos
fotografia de eurico portugal
nas mãos do
druida cresce a cegueira
insidiosamente
visceral
ergue-se algures
entre os pés e a cabeça
atira-se a
cada ilha do corpo e percorre
as artérias
do tempo,
cruzando
membranas em navegação
cúmplice com
os ossos
do outro
lado do corpo
há gente que
não conheceu
e nem as linhas
que segura entre os olhos
claros e os
dedos
saberão coser
as vagas de sangue
que, em
fulguração vulcânica,
apontam ao
centro da terra,
a sua terra
a cegueira
cresce a seu lado
e mesmo ali,
sentado na
mesa do poema
diante da
chávena de café,
ecoam
palavras
com que rasgou
tímpanos
permanece só
ele e a
cegueira,
a cabeça cada vez
mais centenária
como todas
as coisas com que o tempo
castiga a vontade
secreta de ter
chuva nos
lábios,
esse sémen humano
a lamber os ombros
do desejo
e a alagar recordações
antes de voltar
a perder-se nos orifícios
escuros da
terra,
a sua terra
ali
permanece,
entre as
cicatrizes e o orvalho,
sem ser
capaz de dizer
sou o
homem e o meu corpo ainda
está
por escrever