terça-feira, 27 de agosto de 2013

dois poemas para ímpetos e travessias



Ama como a estrada começa

Mário Cesariny



I. gravidade

contei vésperas
amei ausências
jurei tantos mistérios
simples
neste estímulo de intentos
que me adivinho leve
a pairar sobre letras e cata-ventos
com que desfolhaste a terra:

hoje
esqueço-me de mim
no itinerário dos dias inteiros
ou não fosse o verbo o maior dos teus
silêncios.


fotografia de jorge pimenta



II. poema de fim de dia e seus quebrantos

escrevo versos como quem cavalga
nomes
como quem açoita
destinos:

afinal
é sempre tão húmida
a estação da saliva
com que velejas metáforas
e tantos impossíveis
meus.


fotografia de jorge pimenta



16 comentários:

  1. Ah, eu fiquei a pensar nos destinos açoitados! Uma imagem forte .Além do prazer enorme de te ler, as fotos são sempre um espetáculo à parte.

    Beijos, poeta!

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  2. Jorge,
    a razão guia, mas é o coração que alcança.

    Abraço com gravidade,
    meu querido amigo-poeta-fotógrafo-companheiro de prosa e verso, tour em Braga, Guimarães, Porto e cafezinho forrrrte:)

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    1. aninha,
      a simbiose é o velo de ouro que nos faz jasãos de pé ligeiro e mãos brancas sobre o tempo; mesmo reconhecendo a sua impossibilidade, façamo-nos pequenos infinitos no verso, nos tours em braga, guimarães, porto, no café forte, no lenço esquecido, nos goles de chimarrãos e nas palavras que acalentam presenças.

      beijo para todos os regressos!

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  3. e tão imprudente é o ato de escrever quando os estímulos são os próprios intentos!cavalgar nomes dá uma coragem!!

    ponho-me
    na ponta
    da letra
    que aponta
    para mim

    beijos, meu amigo poeta das imagens pulsantes!

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    1. escrever estímulos e intentos: assomo de luz na estreiteza do verso, com coragem e voragem:

      proporção e forma
      no verso livre:
      um pouco de tudo
      pulsando
      do lado esquerdo
      do peito:

      parcos resquícios de mim
      num quase infinito,
      apenas.

      beijo, querida amiga de inspiração sempre inebriante!

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  4. sinto-me tomado pelo ímpeto do galope de cada sílaba na saliva


    abração

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    1. rédea solta que as rimas são o ímpeto e o caminho, caro amigo.

      abração!

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  5. Escreves versos como quem domina a língua.

    Poeta divino!

    Beijos cristais*

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    1. quisera eu ser domador de língua, cris; contento-me em ter meus delírios e atavios de voz por ela domados.

      beijos de cris-tal, poeta imensa!

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  6. a melancolia com que vestes estas palavras... simplesmente inesquecíveis.

    "contei vésperas
    amei ausências
    jurei tantos mistérios
    simples
    neste estímulo de intentos
    que me adivinho leve
    a pairar sobre letras e cata-ventos
    com que desfolhaste a terra..."

    quanta magia na voz!

    Beijos, querido amigo!

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    1. procuro apenas remexer a memória pelo reverso dos signos, querida amiga.

      tão bom saber-te por aqui! beijos e versos!

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  7. E o Esquecimento dilui-se no Silêncio de tuas palavras,
    que,de forma impetuosa, se entranham na alma e se fazem (E)ternas...

    Beijinho meu, querido amigo!

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    1. todo o dizer é esquecimento... para o que recordamos existe tão somente o silêncio.

      beijinho, alcina, minha querida amiga-fotógrafa!

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  8. As palavras lhe brotam com tamanha facilidade e sensibilidade que só me deixam encantamento. Bjs.

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