domingo, 28 de outubro de 2012

imagens invertidas na rota da clandestinidade

o peso de sentir!
o peso de ter que sentir!

fernando pessoa, livro do desassossego


fotografia de eurico portugal
cabanelas - antiga fábrica de cerâmica do minho



é esta a clareira transparente:
bocas abertas e linhas por coser
enquanto aromas bucólicos engravidam
a alfazema das mãos
e os versos suados.

anunciam-se lábios frescos,
talvez mesmo corpos de hortelã
nesse bosque onde todo o lixo
é ramo vazio de aves
a extinguir o canto.

o sangue treme no corpo
e desce pelo silêncio da voz
até à margem do tempo:
é hoje!
é hoje que troco a sombra do passado
por um poeta anónimo
um par de linhas sem rima
e cinco dedos de pólvora
que riem de tudo

sem medo.

 
murmur breeze, float

7 comentários:

  1. Caro Eurico,
    encontro-me em um período offline, mas existem coisas inevitáveis.
    O mundo é movido pelas energias, ora em conflito; ora em complemento numa harmonia crescente, surpreendente, por isso, inevitável como que pré-escrita em um papiro interior a casar peças com o mundo.
    O que seria do poeta sem a Poesia? Da palavra que edifica sem o leitor que a amplia? Do jogador de futebol sem a bola? Do orvalho sem inaugurar o fim do medo? Do medo sem a estreia diária da vida, que nos mantém, que sustenta e que é a própria vida?
    E a vida...? O que seria de nós sem as surpresas, sem as grandes cenas que mantém esse roteiro que vem não sei de onde, para ir... ir aonde?

    Porque muitos anos de medo não valem sequer segundos de orvalho de um único dia de outono.

    Parabéns pelo espaço virtual e pelo talento para escrever com palavras e imagens.

    Beijos muitos!

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  2. assim seja feito, assim se processe a troca

    o trilho continua

    abraço

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  3. Um grande dia de alegria é o fim do medo, o que segue depois.
    Muito bom estar aqui
    bj grande

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  4. Eurico, não há anonimato na alma quando a gente aprende a ver com outros olhos. Que importa o nome e o lugar, se sentimos que continuamos a ser os tantos e tantas que precisamos ser? Seja bem-vindo, teu espaço aconchega em contrações. Teus versos pedem-me para renascer.

    Abarços,

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  5. Pois bem-vindo ao possível peso de, ao peso de ter que, caro Eurico Portugal.
    Impossível é não encontrar rima na margem do tempo.
    Sinta-se abraçado,

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  6. a pele reconhece a voz que um dia a cativou!!

    os vãos, as frestas... também nos permitem ver tanto!!

    Beijo,beijo feliz, amigo Eurico poeta!

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  7. Deparar com a tua poética foi a melhor surpresa desta noite! Sigo a rota em pleno espanto.

    Beijo, Precioso*

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